Artigo
de Geraldinho Vieira publicado no Blog do Noblat
O
que há de comum entre a técnica japonesa do Bonsai (aquelas árvores em
miniatura) e 10 milhões de crianças brasileiras?
Este
é o número de meninos e meninas de 0 a 6 anos que ainda vivem abaixo da linha
da pobreza no Brasil. Correm o risco de tornar-se “bonsais humanos” – forte
expressão criada pelo educador Antônio Carlos Gomes da Costa, invocando a técnica
de inibição do crescimento das raízes na produção das mini-árvores para
explicar o (sub)desenvolvimento humano a que parte de nossa população está
sujeita.
Impedidas
em seu desenvolvimento pleno, as mini-árvores, os bonsais servem como decoração
nas casas de famílias que estão bem acima da linha da pobreza. Nada contra!
Dizem
que os bonsais trazem sorte.
No
caso das crianças, como se sabe, é do instante da fecundação e até os 6 anos de
idade que se faz a semeadura dos mais profundos laços de amor, sentimentos de
confiança, habilidades cognitivas e sociais. É neste período que a família e a
sociedade plantam seres humanos criativos, pacíficos, felizes, empreendedores.
É
no descuido para com esta fase da vida que a família e a sociedade plantam a
violência, o espírito conflitivo, a baixa auto-estima, a ignorância.
Se
os bonsais dão sorte, os “bonsais humanos” não são obra da sorte nem do azar.
Para eles, vale a célebre frase de Nelson Rodrigues: “o subdesenvolvimento não
se improvisa; é obra de séculos".
Não
é por menos que a importância e o impacto do investimento em políticas públicas
para esta população será o tema da abertura do “Simpósio Internacional para o
Desenvolvimento da Primeira Infância”, que vai acontecer de 20 a 21 de outubro
em São Paulo, com palestra inaugural de Jack Shonkoff (especialista da Harvard
University).
A
Harvard e a USP se uniram à Fundação Maria Cecília Souto Vidigal para trazer
experiências do Chile, Colômbia e Austrália aos debates do dia de abertura . No
segundo dia, promovem um amplo painel sobre as políticas públicas e o orçamento
Brasil para suas crianças nesta idade. O Banco Mundial lançará um estudo sobre
a qualidade da Educação Infantil brasileira.
Os
dados que virão destes debates e estudos chamariam mais a atenção da sociedade
se houvesse na agenda pública tanto foco nas políticas quanto há na política e
na politicagem.
*
O CIESPI - Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância
(CIESPI/PUC-Rio) tem excelente base de dados sobre a Primeira Infância, com
tabelas e gráficos com informações de 1999 a 2009. Os gráficos apresentam
comentários sobre tópicos como situação de pobreza, condições de saneamento e
moradia e frequência escolar. (www.ciespi.org.br)
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Geraldinho Vieira (texto) e Claudius (charge) são jornalistas |
Perfeito!!!!!!!!
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