Em
1967, Chico Buarque resumia sua carreira à revista ‘Fatos e Fotos’: “Quis ser
palhaço, bombeiro, intelectual, jogador de futebol, padre, deputado, ladrão de
automóveis, galã e arquiteto. Nada deu certo e acabei tocando violão”.
Portal
Vermelho
O
artista pelo próprio, através de entrevistas e fotografias em jornais e
revistas ao longo da carreira, além de belas descobertas em arquivos da família
compõem o livro ‘Chico Buarque: Para Seguir Minha Jornada’ (Ed. Nova Fronteira,
429 págs., R$ 59,90), da jornalista Regina Zappa, já nas livrarias
“Chico
falava mais livremente quando jovem, na época anterior ao culto às
celebridades, à perseguição dos paparazzi”, diz Regina. “Desde a primeira
entrevista de três horas, aos 22 anos, ao Museu da imagem e do Som (MIS), até
hoje, sobressaem a coerência no pensamento e a maturidade precoce”.
O
trabalho criterioso de pesquisa, detonado pelo vasto material colecionado por
Cecília Buarque de Hollanda, tia do compositor, revela um Chico que, famoso
pela discrição, abre a alma como poucos quando fala. Dividido cronologicamente,
como muitas cartas e manuscritos, o ‘almanaque’ de Regina vai de 1944,
nascimento do compositor, aos dias atuais.
Em
1980, à revista ‘Manchete’, ele confessou precisar de três doses de uísque
antes de entrar no palco para acabar com a “tremedeira nas pernas” e conseguir
cantar. E pouco depois afirmou, à revista feminina ‘Claudia’: “Está me faltando
um filho homem”. Sobre sua relação com as mulheres, cantadas em primeira pessoa
em muitas canções, o resumo veio num DVD gravado em 2005: “Me sinto como um
‘voyeur’ diante das mulheres e gosto de observá-las, não ser observado”.
A
experiência com drogas rende passagens divertidas, quando Chico diz que foi só
no básico (“fumei, cheirei, tomei ácido”), mas largou tudo. “Nunca fui um bom
maconheiro”, afirma. E conta que tentou fumar para curar a insônia, mas a droga
o excitava.
Estão
também nas páginas um bate-papo entre a escritora Clarice Lispector e Chico,
publicado em 1968, e a hilária entrevista concedida ao jornal ‘Última Hora’ por
Julinho de Adelaide, pseudônimo do compositor para driblar a censura durante o
governo militar. Filho de Dona Adelaide, moradora da Rocinha, Julinho era um
cantor de rádio que não se deixava fotografar porque precisava “preservar a
imagem”.
Lembranças
de Chico
ELEFANTE. Chico Buarque era criança na casa da Rua Haddock
Lobo, em São Paulo, e um dia avisou aos pais que havia um elefante no quintal.
Maria Amélia, a mãe, o mandou para o quarto estudar. O pai, Sérgio Buarque,
intelectual importante, retrucou: “Joga no lixo”. E os pequenos olhos verdes
prosseguiram fascinados diante do animal gigante e real que fugira de um circo.
A passagem é descrita em reportagem de 1967, da revista ‘O Cruzeiro’.
CUECA. Em 1968, em Nova York, Chico foi à casa do então
cunhado João Gilberto e depois disse que eles haviam feito um curta-metragem
cujo tema era uma cueca gigante, que eles mandaram fazer e foi vestida por sete
pessoas. A história foi contada na revista ‘Contigo’.
SAPATO
FURADO. Em 1969, a falta de
cuidado com a imagem é descrita com o humor habitual à revista ‘Fatos e Fotos’:
“Não tenho um barbeiro especial e o cabelo aparece cada vez de um jeito. Uso um
par de sapatos até furar e minhas calças são meio largas”.
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