Não
estaremos, é certo, protegidos totalmente contra a corrupção e outros abusos da
prática política. Mas estamos, a partir de 1985, com avanços e recuos, nos
livrando das oligarquias, e o processo deve continuar. A decisão do STF é
talvez o passo mais importante nesse caminho.
Mauro
Santayana, Jornal do Brasil
Reconheça-se
que a decisão do STF, na aprovação da Lei da Ficha Limpa, tal como ela foi
concebida, foi tomada sob a pressão da cidadania. Essa pressão, ao contrário do
que pensam os juristas puros, leitores apressados de Kelsen e outros, é sempre
legítima - se moderada pela prudência. Quando houver o abuso nas decisões
colegiadas de segunda instância, cabe aos tribunais superiores zelar pela
proteção dos cidadãos contra as eventuais intrigas e chicanas.
A
política é a mais necessária e a mais difícil das atividades humanas. Ela se
exerce em todos os atos da vida, porque se trata de contratos cotidianos, de
negociações mais difíceis e menos difíceis, sem as quais não seria possível a
vida em comum. Esses convênios se dilatam no tempo e em suas dimensões e
conseqüências, na construção dos estados e na administração do bem comum.
Ao
longo da História, houve sempre o conflito entre a astúcia na luta pelo poder e
a necessidade de que ele seja exercido por homens honrados. O grande problema é
que, na imensa maioria dos casos, os homens honrados se sentem inibidos em
reivindicar o poder político. Essa inibição abre espaço aos demagogos e aos
aventureiros.
Daí
a explicação de Disraeli para a solidez da Inglaterra, em seu tempo. Ali, dizia
o Lord de Beaconsfield, aos homens de bem não faltava a audácia, um atributo
normal dos canalhas. Não teem faltado, mesmo entre nós, homens de bem ousados,
na defesa da República, e, graças a eles, a nação vem sendo construída.
Nenhum comentário:
Postar um comentário