A
corregedora nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon, disse ontem (13) que a
desorganização do setor de pagamento de precatórios está contribuindo para
encobrir fraudes. Desde o ano passado, a corregedoria iniciou mutirões nos
tribunais de Justiça para organizar os setores responsáveis pelo pagamento de
dívidas do Estado reconhecidas por decisão judicial. Até o momento, já foram
visitados o Tocantins, Piauí, Alagoas, Pernambuco, Mato Grosso e o Ceará.
Agência
Brasil
“O
precatório está todo desorganizado e, muitas vezes, a desordem é para encobrir
o malfeito”, disse a corregedora em entrevista a jornalistas nesta tarde. De
acordo com Eliana Calmon, já foram encontradas situações em que credores
desesperados para conseguir o dinheiro aceitaram vender seus créditos por 10%
do valor original. Dando sequência ao golpe, os criminosos se aproveitavam de
amizades no tribunal para conseguir receber o valor total em até seis meses.
A
ministra também comentou que a desorganização do setor de precatórios é tamanha
que, hoje, não é possível saber o valor exato da dívida. “Estima-se que o valor
esteja em R$ 84 bilhões e praticamente alguns municípios ficaram sem condições
de pagar. Aí, a sensibilidade do legislador no sentido de amenizar um pouco,
fazendo com que isso seja parcelado. É preferível que o credor receba parcelado
que nunca receba”, disse a corregedora, fazendo referência à alteração recente
na Constituição que permite essa modalidade de pagamento. Essa emenda
constitucional, apelidada PEC do Calote, está, inclusive, sendo questionada no
Supremo Tribunal Federal (STF).
Atualmente,
a seção de pagamento de precatórios é responsabilidade dos presidentes dos
tribunais de Justiça estaduais – os precatórios da Justiça Federal e do
Trabalho também são organizados e pagos pelas cortes estaduais. Eliana Calmon
acredita que muitos dos problemas venham dessa atribuição, já que o presidente
cuida de muitas coisas ao mesmo tempo e acaba delegando inteiramente a área dos
precatórios a servidores.
“Estão
existindo algumas falhas do próprio servidor, que, por estar há muitos anos no
setor, não se modernizou e está trabalhando mal e alguns que estão se
aproveitando dessa situação de desordem para locupletar indevidamente”,
constatou. Segundo a corregedora, outra tática usada por criminosos é a criação
de precatórios artificiais, que os presidentes acabam aprovando porque não têm
condições de checar tudo.
Uma
das soluções propostas pela corregedoria para diminuir o número de fraudes é
que um juiz – ou um desembargador nos tribunais maiores – fique responsável por
acompanhar o setor de precatórios, que deve ser gerenciado, de preferência, por
servidores de carreira. “Eles [os servidores de carreira] têm mais
confiabilidade, porque estão há muitos anos no tribunal.”
A
corregedoria também sugere mudança periódica dos responsáveis pelos
precatórios, solução que vem enfrentando resistência em alguns tribunais. “Às
vezes, chegamos no estado e falamos que precisa tirar o servidor que já está há
20 anos [no setor de precatórios] e que já está com vícios. Existe uma
relutância muito grande [quanto ao rodízio de servidores responsáveis pelo
serviço]”.
Uma
exigência da corregedoria é a publicação da fila de pagamento de precatórios
nos sites dos tribunais para facilitar o controle, com atualização semanal da
lista. “Se tiver uma ultrapassagem na lista é o próprio credor que vê. Essa
transparência é o que melhor ajuda a gerenciar a atividade administrativa”.
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