A
corregedora do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministra Eliana Calmon,
voltou a defender competências estabelecidas em lei para processar e julgar
juízes que pratiquem atos de improbidade e corrupção. Em audiência pública na
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, a ministra defendeu a
aprovação de uma proposta de emenda à Constituição que trata do assunto e falou
sobre a dificuldade das corregedorias estaduais de fazer o trabalho de
fiscalização e de processar juízes e, especialmente, desembargadores.
Agência
Brasil
“No
caso dos desembargadores, eles são julgados pelos seus colegas também
desembargadores. E é muito difícil você julgar um igual, um amigo querido. Os
juízes de primeira instância estão um pouco mais distantes, é mais fácil, mas
os desembargadores estão ali trabalhando lado a lado com os corregedores”,
explicou a ministra.
A
corregedora também falou sobre as dificuldades estruturais das corregedorias
estaduais que, segundo ela, são “estranguladas” pelos tribunais quando começam
a desagradar aos desembargadores. Além disso, a ministra denunciou a
interferência política de corregedores que almejam assumir a presidência do
tribunal onde atuam. “Os melhores corregedores são os que não terão idade para
se candidatar a presidente depois”, ironizou.
Segundo
Eliana Calmon, “todos sabem quem são os maus juízes”, mas aqueles que agem
corretamente se calam para não se indispor com os colegas. “A magistratura
séria, decente, não pode ser misturada com meia dúzia de vagabundos que se
infiltraram na magistratura”.
A
PEC que trata das competências do CNJ é de autoria do senador Demóstenes Torres
(DEM-GO) e propõe uma regulamentação mais clara sobre as competências do
conselho. Segundo Torres, a proposta foi apresentada antes da decisão recente
do Supremo Tribunal Federal que considerou válida a competência do CNJ para
processar e punir juízes, independentemente de os processos terem sido
iniciados nas corregedorias estaduais.
Para
o senador, ainda existe margem para questionamentos e a aprovação da PEC vai
trazer mais segurança para a atuação do órgão corregedor. “A decisão do Supremo
é só liminar e foi por um voto, quer dizer, é por uma margem precária. Essa PEC
deixa claro que o CNJ tem a competência para processar e julgar originariamente
atos de juízes e desembargadores. Isso é importante porque o CNJ, ao ver que as
corregedorias estaduais não estão tomando providências, poderá agir”, declarou
o senador.
O
vice-presidente da Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho (Anamatra),
Paulo Schimidt, também participou da audiência e disse que a classe não se
opõem aos poderes do CNJ. Schimidt, no entanto, cobrou que o conselho ofereça
apoio aos magistrados na mesma proporção em que fiscaliza a atuação deles. “Os
juízes esperam muito do CNJ, só na questão disciplinar, no cumprimento de
metas, na busca de eficiência, mas também esperam muito do CNJ na defesa da
independência do juiz”.
A
expectativa é que a PEC que trata dos poderes do CNJ seja votada na CCJ do
Senado na próxima semana. O relator da proposta é o senador Randolfe Rodrigues
(PSOL-AP), que deverá acatar novas sugestões para ampliar ainda mais os poderes
do conselho.
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