A
decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), segundo a qual nem sempre o ato
sexual com menores de 14 anos pode ser considerado estupro, pode banalizar a
violência sexual contra crianças e adolescentes, de acordo com a secretária de
Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, Aparecida Gonçalves.
Agência
Brasil
“Acho
que além de banalizar, vai autorizar [a prática do crime]. O Judiciário
brasileiro está autorizando estupradores a fazerem isso. Este é um elemento
grave”, disse a secretária à Agência Brasil.
No
início desta semana, um homem acusado de ter estuprado três menores, todas de
12 anos, foi inocentado pelo tribunal. O STJ entendeu que não se pode
considerar crime o ato que não viola o bem jurídico tutelado, no caso, a
liberdade sexual. Tanto o juiz que analisou o processo como o tribunal local
inocentaram o réu com o argumento de que as crianças “já se dedicavam à prática
de atividades sexuais desde longa data”.
Para
Aparecida, a decisão do STJ “complica a vida das mulheres”, além de ferir a
Constituição brasileira e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
“Segundo a decisão, o fato das meninas se prostituírem, de já terem tido
relações sexuais antes, é o que inocenta o estuprador. Qualquer ato sexual que
não seja consentido, mesmo com uma profissional do sexo, é crime”.
A
decisão do STJ diz respeito ao Artigo 224 do Código Penal, revogado em 2009,
segundo o qual a violência no crime de estupro de vulnerável é presumida. A
secretária acredita que a decisão do tribunal pode ser revogada antes que
chegue ao Supremo Tribunal Federal. “O STJ é autônomo e pode fazer uma nova
discussão. Acho que é importante que o faça agora”.
Segundo
Aparecida, essa decisão que pode levar o Brasil a ser denunciado na Organização
das Nações Unidas (ONU) e na Organização dos Estados Americanos (OEA) por ferir
os direitos das crianças e adolescentes. Ela disse ainda que o entendimento do
tribunal pode criar uma imagem errônea do país durante grandes eventos, como a
Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. “[Os estrangeiros] podem pegar
nossas crianças, abusar delas, explora-las e depois irem embora”.
A
secretária também destacou a importância das denúncias feitas pela população.
“É importante que a sociedade brasileira não se cale diante desse extremo que
está acontecendo no Brasil que é a questão da violência sexual contra crianças
e adolescentes”. As denúncias sobre exploração sexual de crianças e adolescentes
podem ser feitas pelo Disque Direitos Humanos (Disque 100).
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