O
presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Ari Pargendler,
disse ontem (29) que o tribunal poderá revisar a decisão tomada pela Terceira
Seção da Corte, segundo a qual nem sempre, o ato sexual com menores de 14 anos
pode ser considerado estupro. "É um tema complexo que foi decidido por uma
turma do tribunal. É a palavra do tribunal, mas, evidentemente, cada caso é um
caso, e o tribunal sempre está aberto para a revisão de seus julgamentos.
Talvez isso possa ocorrer."
Agência Brasil
O
pedido de revisão deverá partir do governo, informou a secretária de Direitos
Humanos, ministra Maria do Rosário. Ela informou que vai entrar em contato com
o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e com o advogado-geral da
União, Luís Inácio Adams, para tratar do caso.
O
tribunal entendeu que não se pode considerar crime o ato que não viola o bem
jurídico tutelado, no caso, a liberdade sexual. No processo analisado pela
seção do STJ, o réu é acusado de ter estuprado três menores, todos de 12 anos.
Tanto o juiz que analisou o processo quanto o tribunal local o inocentaram com
o argumento de que as crianças “já se dedicavam à prática de atividades sexuais
desde longa data”.
Pargendler
disse ainda que a decisão deve ser entendida como uma questão técnica, que
precisa acompanhar as leis vigentes no Brasil. "As decisões judiciais são
pautadas pela técnica e, às vezes, esses aspectos não são bem compreendidos
pela população. No direito penal, vige o princípio da tipicidade, que é o
princípio da legalidade estrita. Então, é bom que a sociedade reflita sobre as
decisões dos juízes, mas a sociedade precisa entender que os juízes não criam o
direito, eles aplicam a lei. Então, com esse temperamento, eu espero que a
posição dessa turma, nesse caso concreto, seja compreendida", explicou o
ministro.
Ele
evitou julgar a decisão tomada ontem. "Eu, como presidente do STJ, não
posso julgar uma turma do tribunal. Não posso dizer se ela foi conservadora ou
inovadora. Talvez tenha sido até inovadora, porque realmente a prática anterior
parece que não foi observada no caso”, ressaltou.
O
entendimento do STJ é o mesmo do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a
questão. Em 1996, o ministro Marco Aurélio Mello, relator do habeas corpus de
um acusado de estupro de vulnerável, disse, no processo, que a presunção de
violência em estupro de menores de 14 anos é relativa. A decisão diz respeito
ao Artigo 224 do Código Penal, revogado em 2009, segundo o qual a violência no
crime de estupro de vulnerável é presumida.
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