
Fonte:
www.pdtrs.com.br
Flávio
Tavares foi testemunha e ativo participante do Movimento da Legalidade,
deflagrado em agosto de 1961 pelo então Governador do Rio Grande do Sul, Leonel
Brizola, quando os ministros militares responderam à inesperada renúncia de
Jânio Quadros à Presidência da República, com um golpe de Estado “para impedir”
que o Governo caísse “nas mãos ameaçadoras do comunismo”. Graças à audácia de
Leonel Brizola, o plano dos militares foi paralisado e o movimento acabou por
derrotá-lo.
O
livro de Flávio Tavares resgata episódios famosos e revela fatos inéditos da
rebelião. Detalhes de como Brizola e o então Presidente da Varig, Rubem Berta,
enganaram a FAB (Força Aérea Brasileira) e a Aviação da Marinha sobre a viagem
de João Goulart de Montevidéu.
O
autor diz que o livro é uma espécie de crônica testemunhal dos 13 dias que
mudaram a política e a vida do Rio Grande do Sul e do Brasil, influindo
inclusive na conjuntura mundial:
―
O livro é um duplo depoimento meu, como jornalista e participante do Movimento
da Legalidade desde o primeiro momento, disse Flávio Tavares.
O
jornalista disse que a sua obra é o testemunho das “peripécias e labirintos do
Movimento da Legalidade, com detalhes sobre como os derrotados de 1961 (os
militares) planejaram o golpe de 1964”. Além dos fatos, o livro apresenta
também documentos como um memorando da Embaixada norte-americana, produzido
pela CIA, que alerta sobre a necessidade de barrar a chegada de Jango ao poder.
Um
dos motivos que levaram Flávio Tavares a escrever esse livro foi a constatação
que o golpe de 1961 nunca foi bem interpretado pela História recente do Brasil,
mesmo em se tratando de um movimento cuja importância está no fato de “ser o
único a derrotar um golpe de Estado pela mobilização popular”.
Flávio
observa que a imprensa e o rádio tiveram papel fundamental nesse episódio,
mostrado numa edição extra do jornal Última Hora, do qual ele fazia parte, que
foi editada “nos porões do Palácio do Governo do Rio Grande do Sul”, para que
os jornalistas não fossem atacados pelo Exército.
Protagonista
Zuenir
Ventura disse que o livro foi produzido bem ao estilo de Flávio Tavares, pela
qualidade que apresenta e que se encontra em outras obras do jornalista, como
“Memórias do esquecimento – Os segredos dos porões da ditadura” (vencedor do
Prêmio Jabuti, em 2000), no qual o autor reconstrói o período da luta armada no
Brasil:
―
É uma obra em que o Flávio junta o estilo literário ao rigor jornalístico num
ritmo de trilha policial, para relatar o que ele chama de os 13 dias que
mudaram o Brasil. É curioso que ele viveu esse movimento (Movimento da
Legalidade) como repórter e protagonista relatando os acontecimentos. É um
livro muito bem escrito que informa os bastidores no porão do Palácio Piratini
(sede do Governo gaúcho). É o melhor relato sobre essa época, sobretudo sobre a
crise, elogia o colunista do Globo.
Beatriz
Bissio, editora da revista Cadernos do Terceiro Mundo, disse que apesar de
ainda não ter lido o livro espera muito da obra, porque conhece a seriedade de
Flávio Tavares e, sobretudo, a forma como ele “se debruça nos temas e é
dedicado à pesquisa”.
A
jornalista lembra que, além de ter vivido os episódios, Tavares carrega toda
uma experiência junto ao ex-Governador Brizola e como militante, o que
possibilita ao leitor “voltar o olhar para esse momento tão específico do
Brasil no século XXI”.
Beatriz
considera a proposta do livro extremamente importante, sobretudo para as novas
gerações que têm poucas referências e possibilidades de revisitar as
circunstâncias históricas que nele estão relatadas:
―
Um momento em que forças políticas reúnem-se em torno de uma liderança forte
como a do Brizola, e resistem a uma tentativa de golpe de Estado que,
lamentavelmente, se concretizou três anos depois (1964), afirmou Beatriz.
Militância
Jorge
Miranda Jordão, ex-diretor de Redação da Última Hora, disse que sentia
dificuldade em descrever Flávio Tavares, por se tratar de um personagem com
muitas qualidades como pessoa e profissional, mas falou sobre a amizade com o
colega de militância política e jornalística:
―
Companheiro de jornal, de lutas políticas, de ideologia e um grande amigo. Eu
tenho cinco amigos na vida, o Flávio Tavares é um deles, declarou.
O
Vereador Leonel Brizola Neto (PDT-RJ) descreveu Flávio Tavares como o único
jornalista capaz de resgatar com preciosidade os bastidores do Movimento da
Legalidade, com a riqueza de detalhes como a história é contada no livro:
―
Os fatos históricos relatados por ele deveriam estar sendo divulgados em todas
as universidades e escolas públicas, os fóruns do povo, para que coisas como
essas (a tentativa de golpe dos militares) não aconteçam novamente, afirmou o
parlamentar.
Perguntado
sobre a importância de Brizola nesse episódio, o vereador disse o seguinte:
―
A maior arma do Brizola na Campanha da Legalidade não foi a metralhadora que
ele aparece empunhando em uma foto histórica, foi o microfone, a comunicação,
um canal semelhante às ferramentas sociais que temos hoje, como Facebook e
Twitter que detonaram explosões sociais no mundo inteiro. O Brizola, através do
rádio, mostrou que ele era um grande comunicador, disse o Vereador Brizola
Neto.
O
lançamento do livro de Tavares foi também um acontecimento que serviu para
reunir os amigos, entre os quais o advogado e ex-Presidente da Riotur, Trajano
Ribeiro. Ele comparou Flávio Tavares aos grandes personagens da História do
Brasil, “pelos enormes serviços prestados à democracia no nosso País”.
Trajano
lembrou os 50 anos do Movimento da Legalidade afirmando que o lançamento do
livro é importante porque muitas pessoas não conhecem essa passagem da
História. Ele destacou também a importância da campanha para a manutenção das
liberdades democráticas:
―
Liberdades que duraram três anos e depois foram atingidas pelo golpe de 64, que
tinha sido tentado contra Getúlio, em 1954, e depois, em 55, quando quiseram
impedir a posse de Juscelino. O Flávio é a pessoa que tem legitimidade para
falar sobre isso, porque como jornalista foi o olho da História, afirmou
Trajano Ribeiro.
O
autor
Flávio
Tavares foi colunista político nos anos 1960 da Última Hora do Rio de Janeiro,
São Paulo, Recife, Belo Horizonte e Porto Alegre. Preso e banido do Brasil pela
ditadura em 1969, exilou-se no México, foi redator do Excelsior e
correspondente internacional de O Estado de S. Paulo em Buenos Aires e Lisboa.
No
retorno do exílio, foi editorialista político do Estadão e correspondente da
Folha de S. Paulo na Argentina. Hoje, é articulista dominical do Zero Hora, de
Porto Alegre. Escreveu também “O dia em que Getúlio matou Allende”, que
conquistou o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte, em 2004, e o
Jabuti, em 2005.
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