O
cacique cinta-larga Marcelo posa com o rosto pintado ao receber as chaves de
duas caminhonetes -como seus antepassados recebiam miçangas e espelhinhos - em
troca da assinatura de um termo de compromisso com a Viridor Carbon Services
para um projeto de desmatamento evitado.
Marta
Salomon, Estadão.com.br
A
moeda de troca está registrada em fotografia divulgada no endereço eletrônico
da multinacional de comércio de carbono, movido
pelo combate ao aquecimento global. As caminhonetes foram uma espécie de
“adiantamento” pelo negócio, cujo valor ainda não foi definido.
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Foto: Divulgação |
A
etnia cinta-larga ocupa quatro terras indígenas em Rondônia e Mato Grosso. Uma
delas, a reserva Roosevelt, é conhecida como uma das maiores minas de diamante
do mundo. Os territórios somam 27 mil quilômetros quadrados, ou 18 vezes o
tamanho da cidade de São Paulo.
Para
a Viridor, trata-se do “maior” projeto de desenvolvimento evitado - Redd, no
jargão nos debates das Nações Unidas sobre combate às emissões de carbono - em
comunidades indígenas.
No
mês passado, a Viridor Carbon Services lançou a busca de parceiros para
financiar o projeto com os cintas-largas, no qual estabeleceu uma “comissão” de
19,5% da remuneração total dos créditos de carbono em qualquer tipo de
negociação futura.
Para
a Fundação Nacional do Índio (Funai) trata-se de mais um projeto que impede
indígenas de desenvolver suas atividades tradicionais, como a plantação de
roças e corte de árvores sem prévia autorização da empresa, como o contrato
revelado pelo Estado em março entre a empresa Celestial Green e os índios
mundurucus, do Pará.
Por
US$ 120, os mundurucus venderam direitos de acesso ao território indígena e
sobre benefícios da biodiversidade. A Funai questiona a legalidade do contrato
e resiste a endossar o negócio entre os cintas-largas e a Viridor.
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