Comissão Parlamentar de Inquérito vai investigar
operação de Carlinhos Cachoeira
Isabel Braga e Maria Lima, O Globo
Certos de que a CPI mista de Carlinhos Cachoeira vai
provocar estragos imprevisíveis no governo, no PT, em outros partidos, nos
governos estaduais e podendo até chegar ao ex-presidente Lula, os líderes do
PMDB seguraram até o último minuto o apoio do partido.
No final, carimbaram a criação da comissão, considerada
explosiva e incontrolável, como uma iniciativa exclusiva do PT. Numa cena
inusitada na Secretaria Geral da Mesa da Câmara, expoentes do PT, ao lado de
líderes de PSDB e DEM — principais partidos de oposição — comemoravam, por
volta das 20h30m desta terça-feira, o sucesso na contagem de assinaturas
coletadas: 272 deputados, 101 a mais do que o mínimo de 171.
No Senado, o líder da bancada do PT, Walter Pinheiro (BA),
também comemorou as 67 assinaturas de senadores, 40 a mais do que o mínimo
necessário no requerimento de criação da CPI.
Ainda nesta terça-feira à noite, outros líderes na Câmara
apresentaram novas assinaturas e o requerimento de criação da CPI já contava
com apoio de mais de 340 deputados, estabelecendo uma situação inédita: a união
de partidos governistas e de oposição em defesa de uma mesma CPI. As
assinaturas podem ser retiradas até algumas horas antes da instalação da
comissão, sem data ainda prevista.
A bancada de deputados do PT contribuiu com o maior número
de assinaturas: 78 de um total de 85 deputados. Dois petistas, o presidente da
Câmara, Marco Maia (RS), e o líder do governo, Arlindo Chinaglia (SP), alegaram
impedimento por causa das funções que ocupam. Quatro estavam fora de Brasília e
apenas um, presente na Câmara, não quis assinar, o paranaense André Vargas —
mais tarde, disse que assinaria.
Foi diante desse cenário de empolgação dos petistas com a
CPI do Cachoeira que o PMDB traçou sua estratégia de demarcar terreno nessa
disputa, deixando claro que foi o PT quem quis criar a CPI.
Para marcar ainda mais o distanciamento do partido com o
assunto, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), comunicou que vai se
licenciar por 15 dias, em função de doença, que o levou a ser internado em São
Paulo para desobstrução de uma artéria.
Os líderes do PMDB contam que em reuniões alertaram o
líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), sobre os riscos de uma
CPI. Ele, por sua vez, repetiu, que da, presidente Dilma Rousseff, ouviu que
não haveria nenhuma orientação.
Nesta terça-feira, antes de liberar a bancada, o líder do
PMDB, Renan Calheiros (AL), voltou a se reunir com Romero Jucá (PMDB-RR),
Eunício Oliveira (PMDB-CE) e Braga, que manteve a posição do Planalto.
— Não botem no colo do PMDB uma responsabilidade que não é
dele. O PMDB não é protagonista disso e não inventou essa CPI — disse Eunício.
— Na reunião com Sarney e os líderes, alertei que
essa seria a CPI mais sangrenta da história do Congresso. Por que vamos puxar
um problema que é da Justiça para o Congresso? — emendou o presidente do PMDB,
senador Waldir Raupp (RO).
Até no PT tem engrossado o coro dos cautelosos, além de
Jorge Viana(AC), Delcídio Amaral (MS) e Humberto Costa (PE), que têm se
posicionado contra. Um deles lamentou que os líderes do partido estejam levando
a ferro e fogo uma vontade do ex-presidente Lula, sem medir as consequências:
— Essa orientação de Lula, incendiando a CPI, foi um
grande erro e pode ser uma grande tragédia para o governo e para o PT .
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