Por
Leide Franco (@LeideFranco)
Para
quem não sabe andar na zona Norte de Natal, assim como eu, ir de ônibus a
qualquer parte dessa “cidade” dentro da cidade é a forma mais eficaz e segura
para não se perder pelo meio do caminho, assim penso. É nesses lugares – ônibus
coletivo de pessoas que muitas coisas acontecem, principalmente porque toda ida
à ZN é uma viagem.
Na
última sexta-feira treze, por volta das 11h da manhã, estava eu no ônibus da
linha 01B da empresa Guanabara, vindo de mais um trabalho extra redação feito
no bairro de Nova Natal. Sentei em uma das últimas poltronas, perto da porta.
Quando percorrido uns dez minutos do trajeto de volta pra casa, entra no ônibus
uma mulher aparentemente normal, mas como disse Caetano Veloso: de perto
ninguém é normal. É verdade!
Ela
sentou-se justamente ao meu lado, e devido ao horário, o ônibus tinha pelo
menos mais da metade das cadeiras vazias, mas ela escolheu sentar perto de mim.
Da entrada até onde eu estava ela vinha conversando “sozinha”, mas pensei que
era com alguém no celular, mas aí procurei os fones de ouvido com microfone por
volta do seu colo e pescoço e não encontrei. Vestia blusa azul, saia rosa por
cima de uma calça leg preta e sapatos pretos.
Aquela
mulher aparentava não passar dos 40 anos de idade, se fosse pra arriscar,
jogaria nos 34. Trazia com ela uma mala tamanho médio em cores preto com
vermelho, uma atadura segurando o braço direito em tipóia e um diálogo
ininterrupto. Ela conversava em voz alta naturalmente e em português claro,
quero dizer, bem falado com todas as letras. Ela perguntava e “alguém”
respondia em um bate-papo informal e contínuo.
No
momento ela contava a “alguém” que o médico tinha dado muita bronca nela lá no
hospital pelo simples fato de ela ter tirado o gesso do braço antes do tempo.
“Aquilo estava queimando muito. Natal faz muito calor”, argumentava. Parecia
então que “alguém” brigava com ela, assim dava para entender, e ela revidava
“se fosse você, tenho certeza que faria o mesmo”, dizia chateada.
As
poucas pessoas que estavam no ônibus se olhavam sem entender nada e acho que se
perguntavam se ela estava falando com algum deles. Eu por algumas vezes também
me perguntei isso. Juro! Mas não era mesmo comigo, tenho certeza.
Percebi
que ela estava em dúvida em relação ao local exato que deveria descer. Acabou
saltando em um ponto da Avenida Itapetinga, ainda na zona Norte, mas antes
disso ameaçou descer umas três vezes, mas “alguém” lhe dizia que as paradas não
eram aquelas, então ela voltava e sentava. “É mais lá na frente então? Tem
certeza?”, perguntava insistentemente ela a “alguém” que poucos minutos depois
“garantiu”, acredito eu que sua parada seria a próxima.
Ela
desceu, carregando sua mala e seu braço preso pela tipóia. Virou-se para um
lado, depois para o outro, incerta de onde estava. Continuou conversando com
“alguém” que supostamente lhe apontava a direção que ela deveria seguir, e
concordado ela apontava também e fazia gestos de que sabia onde estava e para
onde ia. De repente largou a mala e saiu andando na direção indicada por
“alguém”, quando percebeu que “alguém” não teria carregado cavalheiramente a
mala e caminhado junto com ela, pareceu chateada. Assim, ela teve que voltar
alguns passos, xingar “alguém” e sair esbaforida, brigando alto com esse
“alguém”.
Perguntas
dessa que lhes escreve: Até que ponto estamos sozinhos? Até que ponto estamos
acompanhados no meio da multidão?
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