O
principal desafio que a Cúpula dos Povos por Justiça Social e Ambiental terá
que enfrentar é a desconstrução das propostas que dominam a agenda oficial da
Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20,
programada para junho próximo, no Rio. A Cúpula dos Povos está sendo organizada
por movimentos da sociedade civil e ocorrerá paralelamente à Rio+20, no Aterro
do Flamengo. A conferência da ONU tem três temas centrais: economia verde,
erradicação da miséria e governança global.
Agência
Brasil
Para
a representante do Comitê Facilitador da Sociedade Civil para a Rio+20 e
diretora da organização não governamental Fase-Solidariedade e Educação, Fátima
Mello, a meta da Cúpula dos Povos é, “de um lado, desconstruir essas ilusões e
as teses da agenda oficial e, de outro, transmitir a mensagem de que o mundo
passa por uma crise global sem precedentes. Essa crise será enfrentada por meio
de soluções, cujo caminho é o fortalecimento dos direitos, a recuperação dos
bens comuns, ao contrário da mercantilização da natureza, que a agenda oficial
propõe”.
Fátima
Mello destacou a necessidade de que bens comuns, como a água, a terra, o ar, as
florestas, e o solo urbano sejam apropriados coletivamente e não pelo mercado
financeiro. Durante as atividades que serão promovidas durante a Cúpula dos
Povos, no período de 15 a 23 de junho, o objetivo é promover um diálogo amplo
com a sociedade.
Ela
definiu como um risco a percepção da ONU em relação às novas tecnologias que
integram a chamada economia verde. “Elas podem ser uma enorme fonte de lucro
para as grandes indústrias e corporações que produzirão essas novas tecnologias
e manterão a propriedade intelectual sobre elas, aumentando assim a distância
entre os que têm acesso e os que não têm”. A diretora acredita que isso tornará
os países mais pobres ainda mais dependentes dos ricos.
Para
Fátima Mello, não existem garantias de que essas novas tecnologias serão
apropriadas como deveriam, isto é, como um bem comum. “Nós temos visto
exatamente o contrário. Que as tecnologias são criadas para gerar mais lucro e
mais concentração de saber. Elas não são amplamente socializadas”. Na sua
opinião, a economia verde, cujo foco são as novas tecnologias, é um grande
risco.
Em
contrapartida à tese da ONU, a Cúpula dos Povos pretende mostrar que
existem saberes entre as populações tradicionais e alternativas reais que estão
sendo construídas por grupos sociais no mundo todo, que têm de ser recuperados
e valorizados. A agroecologia e o campesinato são alguns, citou Fátima. “Esses
saberes que estão sendo jogados no lixo e substituídos pelo da grande
agricultura industrial, voltada para a exportação, nós precisamos
recuperar”.
Sobre
a posição brasileira na Rio+20, a diretora disse que esperava uma postura mais
ousada. “Nós esperávamos que o Brasil, como anfitrião e país megadiverso,
tivesse uma postura, uma iniciativa mais ousada e proativa, no sentido de
enfrentar os problemas do planeta”.
Ela
lembrou que a estratégia e o papel da Cúpula dos Povos é “botar o dedo na
ferida, exigir, pressionar e mobilizar a população para que cobre soluções
muito mais amplas e profundas do que os governos estão propondo”.
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