Como um retrato autêntico da vida nas periferias
brasileiras, a literatura marginal vem ganhando espaço e conquistando leitores,
principalmente os jovens.
Agência Brasil
“A literatura que eu escrevo vem de ruas que os anjos não
frequentam, de pessoas que não têm voz”, diz o poeta Sérgio Vaz, referindo-se à
expressão literária e estética da periferia. O tema foi destaque de um ciclo de
debates realizado hoje (15), na 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, em
Brasília, que reuniu escritores como Vaz, Ferréz e o rapper GOG.
Autor de coletâneas de poemas que tratam do cotidiano da
periferia de São Paulo, Vaz conta que se engajou nesse tipo de literatura por
ser revoltado com a vida. Para ele, os livros sobre a realidade das “quebradas”
mostram como as pessoas da periferia estão se tornando protagonistas de sua
própria história. “Antigamente, as pessoas escreviam sobre a gente, eramos
coadjuvantes. Hoje, somos nós que contamos a nossa história. A literatura é uma
arte como outra qualquer e tem compromisso social.”
Há mais de dez anos, Vaz criou o Cooperifa, um projeto
social que busca disseminar a leitura entre as pessoas de comunidades de São
Paulo. Durante o ano, são realizados saraus, oficinas e outras atividades
culturais. Atualmente, 150 pessoas estão engajadas no projeto. “Começamos a dar
uma função social para a literatura por meio da oralidade. Nós fazemos a
gentileza de recitar, e a pessoa faz a gentileza de ouvir. É uma ferramenta
para chegar ao livro.”
A professora Aline Evangelista Martins acompanhou a
evolução do sarau da Cooperifa, em São Paulo e o modo como os livros que tratam
da realidade do gueto vem impactando as comunidades. “O grande mérito no
trabalho deles [de escritores de literatura marginal] é a democratização da
leitura, da imagem do leitor, da quebra de estereótipo. [Eles] conseguem
ampliar bastante as possibilidades e formar leitores onde muitas vezes a gente
não consegue.”
A literatura marginal, que tem forte ligação com a cultura
do rap e do hip hop, está atraindo cada vez mais os jovens. O estudante
brasiliense Fernando Borges, de 16 anos, viu na literatura uma forma de
melhorar o comportamento e mudar de vida. “Eu bagunçava muito na escola, por
isso, a professora me passou alguns contos do Ferréz [escritor de literatura
marginal], e eu me inspirei. Tomei gosto pela leitura, porque, antigamente, eu
não gostava de ler.”
Morador da Cidade Estrutural, no Distrito Federal,
Fernando tornou-se escritor e deve lançar um livro com textos, poesias e letras
de música ainda neste ano. “Vai ser voltado para a literatura marginal, para o
cotidiano da periferia. Quero que as pessoas leiam mais a literatura
periférica”, disse.
Para o rapper e escritor Genival Oliveira Gonçalves,
conhecido como GOG, a literatura periférica põe o jovem em papel de destaque.
“Mostra que ele [o jovem], muitas vezes dá motivo para que
o sistema o enquadre, mas também que ele tem possibilidade de escrever a
história. A sabedoria de rua é o nosso grito de guerra, a nossa visão.”
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