John Gapper*
O Yahoo!, que revelou mais um plano de reorganização, e a AOL, que vendeu 800 patentes à Microsoft por US$ 1,1 bilhão, estão sob ataque dos fundos de hedge. As duas companhias têm valor de mercado equivalente a apenas uma fração do que atingiram durante a bolha de internet dos anos 1990.
O Vale do Silício foi sempre competitivo, mas as barreiras
para o ingresso no boom das redes sociais, em seu estágio atual, são tão
baixas, e o capital, tão abundante, que o processo de destruição criativa agora
ocorre em ritmo acelerado. Se o Facebook, a caminho de lançar sua oferta
pública inicial de ações, pagou US$ 1 bilhão para neutralizar o Instagram, qual
será o valor do Pinterest, do Path e de outros serviços que ainda estão por ser
inventados?
Porque o Instagram tem receita zero, é impossível
determinar em que medida Zuckerberg exagerou na oferta por um único aplicativo,
que tem roubado usuários ao Facebook.
Sabemos o que ele teme -repetir o destino de muitas
empresas de internet voltadas ao consumidor (entre as quais redes sociais como
a Bebo, adquirida pela AOL em 2008 por US$ 850 milhões e vendida no ano passado
por US$ 10 milhões). Elas podem ganhar milhões de usuários e conquistar imensos
valores de mercado repentinamente -e implodir de maneira igualmente súbita.
O mais notável sobre a transação entre o Facebook e o
Instagram é que a mudança de rumo tenha acontecido tão rápido. Em geral, uma
empresa precisa estar operando como companhia de capital aberto há ao menos um ou
dois anos e sofrer pressão de investidores para que comece a pensar
defensivamente a adquirir concorrentes nascentes.
Depois, tem de decidir se vai integrar a nova aquisição às
suas demais operações, o que acarreta o risco de arruinar a nova propriedade,
ou se vai mantê-la separada.
O Instagram caminhava para ser o maior serviço on-line de
fotografia, o que ameaçava o domínio do Facebook sobre a veiculação de fotos,
mas Zuckerberg não poderá simplesmente absorver a companhia.
"Trata-se de um marco importante para o Facebook
porque pela primeira vez adquirimos um produto e empresa com tantos usuários.
Não é algo que planejemos repetir muitas vezes", prometeu. Mas o que
acontecerá quando uma nova companhia iniciante começar a atrair a atenção dos usuários
do Facebook?
Já existem alguns exemplos, como o Path, rede social móvel
para o iPhone e o Android; e o Pinterest, um site de fotos cujo foco é a moda.
Qualquer empresa de tecnologia que planeje permanecer no
mercado precisa da capacidade de se defender via aquisições. Mas o fato de que
o Facebook tenha feito isso antes de amadurecer revela algo de preocupante
quanto à internet. A combinação de barreiras baixas à entrada, distribuição
digital, companhias de capital para empreendimentos ávidas por investir,
engenheiros de software ambiciosos e a oportunidade de ganhar bilhões geraram
um ambiente de hipercompetição.
Mas nenhuma companhia está segura. Warren Buffett é famoso
por sua aversão a investir em tecnologia, porque esse tipo de investimento é
imprevisível. Os serviços ao consumidor na internet contam com as muralhas mais
fáceis de derrubar.
A proteção do Facebook é o efeito de rede propiciado por
seus milhões e milhões de usuários, mas a ascensão do Instagram e a derrocada
do MySpace e de outros serviços demonstram o quanto isso é frágil.
Zuckerberg tem evitado, até o momento, as armadilhas ao
conduzir a ascensão de sua empresa com inteligência, recuando de seus erros com
rapidez suficiente para não alienar os usuários. Mas o crescimento do Facebook
se desacelerou nos EUA e parece claro que ele começou a se preocupar com as
ameaças ao domínio de sua empresa.
O Instagram era uma, mas há outras. A internet tem o
desagradável hábito de consumir suas empresas maduras -o Yahoo!, fundado em
1994, demorou 18 anos para chegar à sua situação atual. O Facebook terá sorte
se durar tanto tempo.
*John Gapper é editor-associado e colunista do
"Financial Times", jornal em que este artigo foi publicado
originalmente.
Tradução de Paulo Migliacci – Publicado na Folha.com -
Mercado
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