“COISAS
DA VIDA”
Por
Leide Franco* (@LeideFranco)
Estou
lendo “Ensaio Sobre a Cegueira” de José Saramago, um clássico que já deu origem
a filme de Fernando Meirelles. Estou lendo de forma mesquinha, egoísta,
poupando as páginas, para que não se acabem logo. Não tenho curiosidade de
saber o fim, quero aproveitar o meio. Já estou no meio e chegar ao meio é estar
perto do fim.
O
livro conta a história de uma cidade que de repente começou a cegar. As pessoas
uma a uma foram acometidas por um “leite branco” tapando sua visão. Tudo que
elas passam a enxergar é uma névoa leitosa. O autor nos leva por esse caminho
cego, não escuro, mas cego, invisto. Saramago nos carrega pelas mãos, assim
como todos aqueles que perderam a visão, na história, deveriam ser carregados,
mas não encontra esse braço estendido.
O
enredo nos faz refletir sobre coisas que não damos a importância devida: o céu
azul, a chuva fina, o dia nublado, os cabelos bagunçados pelo vento. O sorriso
do menino que ganhou um pirulito, do homem que chora sua desgraça, da mãe que
alimenta seu filho. Coisas da vida que não enxergamos. Estamos cegos para
muitas coisas. Cegos, tapados, fingidos. Fugidos.
Esquecemos
de dizer um monte de coisas. Esquecemos de enxergar muito mais. Apenas estamos
vendo. Vendo passar, vendo acontecer, mas cegos. Cegos demais para observar. Estamos
pensando de menos ou de muito ou nada?
-
Por que foi que cegamos?
-
Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão.
-
Queres que te diga o que penso?
-
Diz.
-
Penso que não cegamos, penso que estamos cegos. Cegos que veem. Cegos que,
vendo, não veem.
Tenho
pouco pra hoje porque estou mergulhada nessa de estar vendo cegamente. Quando
terminar de enxergar o livro todo, voltarei trazendo minhas impressões. Mas já
deixo a recomendação da leitura. É bom para abrirmos os nossos olhos.
*Leide
Franco - Comunicadora com pretensões literárias;
Um
pouco de filosofia e reflexões cotidianas;
Um
muito de MPB
E
quase nada do que ainda quero ser.
Nenhum comentário:
Postar um comentário