A Comissão da Verdade quer trocar informações com os
comitês estaduais de direito à memória e à verdade sobre os casos de violações
de direitos humanos que ocorreram entre 1946 e 1988. De acordo com o advogado
pernambucano e membro da comissão, José Cavalcante Filho, o grupo escolhido
pela presidenta Dilma Rousseff não vai conseguir apurar todos os fatos sem
ajuda.
Daniella Jinkings
- Agência Brasil
“Se a gente conseguisse que todos os estados fizessem isso
[instalar comitês estaduais], a gente poderia ajudar. Quer quebrar sigilo? A
gente ajuda. Se a gente conseguir conquistar a confiança deles, eles vão apurar
e a gente só vai filtrar”, disse Cavalcante Filho.
Atualmente, 25 estados brasileiros têm comitês de direito
à memória e à verdade, no entanto, nem todos são ligados aos governos
estaduais. Há algumas iniciativas de organizações da sociedade civil. Segundo o
coordenador-geral do Projeto Direito à Memória e à Verdade da Secretaria de
Direitos Humanos (SDH), Gilney Viana, os comitês vão buscar documentos,
analisar depoimentos e explicar à sociedade o papel da Comissão da Verdade.
De acordo com Viana, o Projeto Direito à Memória e à
Verdade está entrando em uma nova fase com a parceria de sindicatos e entidades
de classe. A Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Central Sindical e
Popular (Conlutas), a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura
(Contag) mostraram interesse em criar comissões para resgatar a verdade do que
ocorreu com os trabalhadores durante a ditadura militar. “A minha intenção é
mobilizar essas entidades. Eles têm dinheiro, têm equipe e estão interessados
em apurar os fatos”, disse.
Outro instrumento que vai permitir a investigação dos
fatos é a Rede dos Observatórios do Direito à Verdade, Memória e Justiça das
Universidades Brasileiras. Criada pela SDH no ano passado, a rede vai
aprofundar as pesquisas acadêmicas sobre as lutas políticas ocorridas no Brasil
entre 1964 e 1985. A rede conta com a parceria do Arquivo Nacional e é composta
por universidades públicas e privadas do país.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes), agência de fomento ligada ao Ministério da Educação, vai
apoiar as pesquisas das universidades. Segundo Viana, o edital da Capes com
todas as informações sobre a pesquisa deve ser publicado em breve. “No ambiente
acadêmico, temos poucas pesquisas sobre isso [o período da ditadura militar].
Com essa rede, vamos fortalecer a pesquisa nas áreas de direito, história e ciência
política”. A Agência Brasil procurou a Capes para saber quando o edital seria
publicado, mas não obteve resposta até a conclusão desta reportagem.
A Comissão da Verdade foi instalada pela presidenta Dilma
Rousseff na última quarta-feira (16). Foram empossados José Carlos Dias
(ex-ministro da Justiça), Gilson Dipp (ministro do Superior Tribunal de
Justiça), Rosa Maria Cardoso da Cunha (advogada), Cláudio Fonteles
(ex-procurador-geral da República), Paulo Sérgio Pinheiro (diplomata), Maria
Rita Kehl (psicanalista) e José Cavalcante Filho (jurista).
O grupo terá dois anos para ouvir depoimentos em todo o
país, requisitar e analisar documentos que ajudem a esclarecer as violações de
direitos. De acordo com o texto sancionado, a comissão tem o objetivo de esclarecer
fatos e não terá caráter punitivo.
Hoje (21), a Comissão da Verdade fará sua primeira reunião
ordinária. Inicialmente, os integrantes vão tratar de questões burocráticas,
como definir as subcomissões e quem são os 14 assessores que vão apoiar os
trabalhos.
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