Responsável por consumir R$ 179,3 bilhões no ano
passado, ou 4,34% do Produto Interno Bruto (PIB), apenas no nível federal, o
funcionalismo público enfrenta o desafio de prestar à população serviços com
qualidade. Segundo especialistas ouvidos pela Agência Brasil, a melhoria da
eficiência no serviço público não depende apenas da informatização ou de
aumentos salariais. A criação de bons ambientes de trabalho e de mecanismos
para medir os resultados sociais do serviço público é essencial para elevar a
produtividade dos servidores.
Wellton Máximo
- Agência Brasil
O próprio conceito de produtividade, no entanto, é difícil
de ser definido no serviço público. Sem estar sujeitos às mesmas regras do
setor privado, os servidores precisam de critérios distintos de avaliação. “Em
alguns casos, é fácil estipular metas, como horas-aula dadas, no caso dos
professores, e número de consultas por dia, no caso de médicos. Mas, na maioria
das situações, não dá para usar esses critérios”, explica o economista Roberto
Nogueira, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Coautor de um estudo sobre a situação do serviço público
no Brasil, Nogueira entende que o acompanhamento da produtividade deve levar em
consideração a realidade de cada ramo de trabalho. “O número de processos
julgados por um juiz, por exemplo, pode ser enquadrado como um caso em que a
demanda é definida, mas a arrecadação da Receita Federal, não. O recolhimento
de impostos não depende só do trabalho de fiscalização, mas do comportamento da
economia".
Diretor da Associação Nacional dos Especialistas em
Políticas Públicas e Gestão Governamental (Anesp), Valmir Dantas reconhece a
dificuldade de definir graus de produtividade no serviço público, mas defende a
criação de critérios de avaliação e monitoramento apropriados para cada ramo de
atuação. “Quem não mede, não gerencia. Hoje, o governo avalia a execução dos
programas por meio da execução do orçamento, sem medir o ganho social das
ações”, critica.
Mesmo com as dificuldades para medir a produtividade do
setor público, os especialistas concordam que a melhoria da qualidade é
necessária. Nogueira destaca que alguns esforços têm sido feitos,
principalmente nos investimentos em tecnologia da informação, que aumentaram a
velocidade da prestação de alguns serviços. No entanto, considera que o governo
poderia investir mais em ações complementares para tornar esse processo
sustentável.
Para o economista do Ipea, o governo, de modo geral, até
investe na capacitação dos servidores, mas o principal fator que poderia elevar
a qualidade do serviço público está na forma de gestão. “O que a máquina
pública precisa é de líderes que saibam construir uma discussão democrática e
motivar a equipe a trabalhar em torno de um objetivo comum”, disse Nogueira.
O diretor da Anesp, entidade que representa os gestores
públicos, concorda com a necessidade de melhoria na administração do serviço
federal, mas diz que o processo deve ser acompanhado de mecanismos de
implementação das decisões. “A melhoria na gestão não se deve resumir ao
carisma do chefe, mas à criação de instrumentos estruturados de tomada de
decisão e de monitoramento das ações”, acrescenta.
Entre os avanços no serviço público nos últimos anos,
Dantas cita o pregão eletrônico, que barateou em até 30% as licitações
federais, e a maior coordenação entre a União, os estados e os municípios. “A
qualidade do serviço público vem melhorando em geral, mas os resultados das ações
não conseguem ser medidos com antecedência. Essa é a grande dificuldade”,
lamenta.
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