Ivone Caetano, de 67 anos, foi a primeira mulher negra
a se tornar juíza do Tribunal de Justiça do Rio, há 18 anos. De lá para cá, o
país vem registrando diminuição da desigualdade entre negros e brancos e homens
e mulheres. Apesar desses avanços, no entanto, Ivone segue como exceção nas
estatísticas.
Antonio Gois e Alessandra Duarte, O Globo
É o que mostram tabulações do Censo 2010 feitas com
exclusividade pelo GLOBO. Nas carreiras de maior renda, as mulheres e os
brasileiros que se autodeclaram pretos ou pardos ao IBGE são, quase sempre,
minoria e, mesmo ali, tendem a ganhar menos.
Das 438 profissões listadas no Censo, em só 16, ou 4% do
total, a renda média dos trabalhadores pretos e pardos supera a dos brancos. No
caso das mulheres, o número de ocupações em que a renda média supera a de
homens chega a 49, ou 11% do total.
A profissão de Ivone exemplifica bem a desigualdade.
Juízes são, segundo o IBGE, a profissão mais bem paga do país, com renda média
de quase R$ 17 mil. As mulheres nessa ocupação, no entanto, representam apenas
31% do total, e recebiam, em média, 23% a menos do que os homens juízes.
Encontrar magistrados pretos ou pardos é ainda mais raro.
Apesar de eles representarem cerca de metade da população, entre juízes a
proporção é de 13%. Excetuando ocupações com número muito baixo de
trabalhadores, é a profissão com o menor percentual desse grupo entre todas do
Censo. E eles ganham, em média, 14% a menos que seus colegas brancos.
— Na minha profissão, sempre fui tratada com muito
respeito, mas há manifestações veladas de preconceito. Como afirmou a
(ex-senadora) Marina Silva, ‘o desvalor da pessoa traz o desvalor da palavra’:
é ver que o que você diz não é tão levado em conta — afirma Ivone, juíza
titular da Vara da Infância, da Juventude e do Idoso da capital.
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