Uma pesquisa da Universidade de Campinas (Unicamp)
revela que a discriminação pode fazer com que adolescentes com orientação
homossexual sofram mais risco de sofrerem distúrbios psiquiátricos. “Não
podemos dizer que o preconceito é causa determinante de pior saúde mental, mas
o identificamos como fator de risco”, diz a autora da tese “Homossexualidades
na adolescência: saúde mental, qualidade de vida, religiosidade e identidade
psicossocial”, a psicóloga Daniela Barbetta Ghorayeb.
Fonte: Rede Brasil Atual
Para chegar a essas conclusões da pesquisa, inédita,
Daniela ouviu depoimentos sobre a vida, angústias e sentimentos de dois grupos
de 86 jovens, divididos por gênero e escolaridade, com as mesmas idades, sendo
um declarado homossexual e outro heterossexual. Na entrevista a seguir,
concedida à Rede Brasil Atual, a pesquisadora fala sobre o trabalho e aponta
medidas que considera efetivas para enfrentar esses riscos.
Rede Brasil Atual: Qual a principal conclusão do seu
estudo?
Daniela Barbetta Ghorayeb: O mais relatado pelos jovens,
independentemente da idade, é o medo que sentem de desapontar a família. É um
dado interessante porque reforça o papel fundamental que a família tem na
adolescência e juventude, principalmente em casos como esse. Basicamente é o
temor de envergonhar os familiares, de não corresponder às expectativas deles
justamente num momento muito difícil, quando a juventude é pressionada,
inclusive por ela própria, para escolher a profissão, para alcançar
independência financeira e emocional; é quando começam os namoros. Embora a
gente observe que já existe uma geração mais informada, menos preconceituosa
que a geração anterior, e que essa tolerância, a convivência com a diversidade
facilita a sociabilidade sem tantas angústias, com os pais isso não ocorre. A
família ainda é o que pega mais.
Rede Brasil Atual: Qual o dado mais preocupante que a
senhora encontrou?
DBG: O grupo homossexual apresentou maiores danos mentais
que o heterossexual. Eles acessam mais os serviços de saúde mental, vão mais ao
psiquiatra, fazem mais psicoterapia. O principal problema é que o preconceito
que enfrentam se torna importante fator de risco para a doença mental. O dado é
bastante sério. Prevalência de 50%. Mais transtornos nesses jovens homossexuais
com relação aos heterossexuais.
Rede Brasil Atual: Que danos mentais seriam esses?
DBG: Depressão associada ao risco de suicídio. Ou seja, a
pessoa já ter tentado tirar a própria vida ou ter tido a ideia de fazê-lo – o
que chamamos de ideação suicida. É quando se chega a ter um planejamento; a
pessoa pensa como faria; como poderia fazer isso. No grupo heterossexual não
encontramos nenhum caso assim.
Rede Brasil Atual: Então os jovens homossexuais
entrevistados já procuram ajuda?
DBG: Os homossexuais procuram mais esses serviços, vão ao
psiquiatra, à terapia. Buscam na psicoterapia uma forma de elaborar e lidar com
a situação do preconceito. Esse aliás é um traço marcante em todas as idades
analisadas. Infelizmente, pelo tamanho da amostra, não pude segmentar a análise
por grupos etários (como 16-18, 18-20, 20-22). O que eu pude extrair dos
relatos dos jovens, que moram longe de suas famílias para estudar, é que
elaboram melhor a questão do preconceito, e mesmo a liberdade deles viverem as
relações sociais e afetivas. Por estar longe dos pais, o preconceito fica mais
leve.
Rede Brasil Atual: Como enfrentar essa situação?
DBG: É preciso um trabalho educacional junto às escolas,
aos professores, que têm grande inserção na vida de jovens e adolescentes. Com
isso haverá efeito muito positivo a médio e longo prazo. A educação é
fundamental, mas não só à base de folhetos informativos. O preconceito é uma
questão que tem de ser discutida com as pessoas. Estamos numa sociedade
majoritariamente heterossexual. Claro que modos diversos de viver a sexualidade
não vão ser encarados tão naturalmente. A discussão sobre o assunto de modo a
levar à reflexão pessoal é o caminho para as pessoas mudarem a maneira de
encararem. A educação seria o espaço para começar esse trabalho.
Rede Brasil Atual: Quais seriam os outros?
DBG: Não. Esse quadro dramático exige mais instrumentos,
como a criação de serviços de saúde mental para atender a essa população, seus
familiares. Essas famílias precisam de orientação. O que fazer? Como lidar com
a situação? Dentro dos serviços públicos de saúde mental falta ênfase nesse
tipo de atenção. Faltam cuidados, tratamento mais sensível à questão da
orientação sexual, que já seriam medida positivas. E é preciso melhorar a
formação dos próprios profissionais de saúde para que eles possam tratar a
questão da orientação sexual de uma forma mais delicada e sensível que essa
população precisa.
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