Desde a execução de Tim Lopes, em 2002, 21
profissionais foram assassinados, 4 deles até maio
Gustavo Villas Boas, estadão.com.br
Em apenas cinco meses, 2012 já é o mais violento para
jornalistas brasileiros desde o assassinato de Tim Lopes, cuja morte completa
dez anos hoje. Conforme a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), quatro
profissionais foram mortos no País em crimes relacionados ao exercício da
atividade, mesmo número registrado em todo o ano de 2011.
As oito mortes neste último ano e meio totalizam quase 40%
dos 21 assassinatos de jornalistas cometidos desde 2002, ano da execução, por
traficantes, do jornalista da TV Globo no Complexo do Alemão, no Rio.
“É uma ameaça à liberdade de expressão. Quando se cala um
jornalista quem sofre é a sociedade”, diz o presidente da Associação Brasileira
de Jornalismo Investigativo (Abraji), Marcelo Moreira, organização criada no
mesmo ano da morte de Tim Lopes.
Na quinta e na sexta-feira, a entidade esteve à frente de
um seminário que debateu a cobertura em situações de risco. “A violência, no
País, tem naturezas distintas: há traficantes de atacado na fronteira e
tiroteios nas favelas do Rio.” Mas, ressalta, há uma ameaça menos visível:
crimes políticos cometidos em pequenas cidades. “Os quatro jornalistas mortos
neste ano foram vítimas de crimes desse tipo.”
Para Moreira, o debate avançou, mas precisa amadurecer.
Diz que é imprescindível mandar repórteres para a guerra ou para observar a
ocupação de uma favela, mas, além do planejamento da segurança, é preciso uma
cultura de avaliação de riscos. “É uma visão deturpada achar que segurança é
não fazer a matéria.”
Moreira diz que o Brasil é um país violento para os
profissionais de imprensa. Lembra que o Instituto Internacional de Segurança da
Notícia (Insi, na sigla em inglês) coloca, em 2012, o Brasil como o terceiro
pior país para jornalistas, à frente apenas de Nigéria e Síria.
Por isso, critica a posição do governo brasileiro, que, no
fim de março, derrubou, numa reunião da Unesco em Paris, o texto de um novo
Plano de Ação da ONU sobre Segurança dos Jornalistas. À época, o Itamaraty
afirmou que não é contra o plano, mas o rejeitava devido a procedimentos
irregulares.
O veto levou entidades ligadas à imprensa a protestar. Em
reunião com a ministra Ideli Salvatti, das Relações Institucionais,
representantes de órgãos como a Associação Nacional de Jornais e a Abraji
ouviram o compromisso de o governo criar um observatório de violência contra jornalistas.
Tal ideia ressurgiu em audiência na Comissão de Direitos Humanos do Senado, no
dia 28.
Além do observatório, a audiência debateu a proposta de
federalização de crimes contra jornalistas, com apuração pela Polícia Federal,
em locais onde houver pressão contrária à apuração.
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