Por
Leide Franco (@LeideFranco)
É
tão estranho, às vezes pergunto-me quem sou eu, quem somos nós entre tantos
lobos e feras humanas. Outras vezes faço questão de esquecer essas perguntas
que nunca nos levam a nada. Vão ser para sempre interrogações se perguntando
sozinhas. Acho que estamos perdidos dentro de uma selva construída por gente
empedernida que por vezes pensa. É cada um por si e o deus de cada um por todos
eles.
Levaram
à banalização a tal da caridade, da compaixão que tínhamos pelos outros.
Aqueles bilhetinhos que nos entregam dentro dos ônibus pedindo uma ajuda “porque
meu filho é deficiente físico e eu não tenho o que comer em casa” já não fazem
com que a gente leia até o fim aquele texto amassado e sujo no papel.
Não
adianta o choro da criança que sente fome, o grito de inocência de quem diz que
não praticou estupro e jura que só roubou uns objetos de valor – valor para
quem perdeu. Do outro lado, ou melhor, de frente, pessoas de carne e osso e
sangue e suor e coisas que chamam de sentimentos humilha, esnoba, pisa,
debocha, acusa como o juiz de todas as razões desumanas: “não estuprou, mas
queria estuprar!”.
Eu
vejo grávidas, mães com criança no braço, velhos de bengala em pé dentro dos ônibus
enquanto o menino de 17 anos, sentando, está em outro mundo, dentro do player
do celular onde os fones tapam sua audição, visão e gentileza. Gente de pedra.
De
repente você não se pega pensando em que tipos de pessoas estamos nos tornando?
Meu esforço diário é para não endurecer – já disse isso, é tentar fazer com que
eu me permita pelo menos sentir pena daquele rapaz que dorme na rua, onde o teto
é o céu e o cobertor é um papelão. Essas coisas que de tão comuns já não nos
chocam mais, já não nos deixam mais inquietos com aquela vontade de fazer
alguma coisa e salvar o mundo. Onde está o humano de nós?
Que
mundo estamos destruindo? Que mundo nossos filhos vão (re)construir?
São
as mesmas perguntas de respostas vazias, tais como as que fiz no começo deste
texto.
Estamos
cegos, mudos e surdos. Perdemos os sentidos.
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