O documento final da Conferência das Nações Unidas
sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que chega hoje (20) às mãos de
chefes de Estado e de Governo é “aguado”, não apresenta metas claras, formas de
financiamento de ações e está aquém do texto elaborado há 20 anos, na Rio92,
conferência que vinculou o desenvolvimento ao meio ambiente.
Isabela Vieira - Agência Brasil
As avaliações foram apresentadas por representantes de
organizações não governamentais (ONGs) que acompanharam as discussões do texto
final por meio do Major Group ONGs e por especialistas da área ambiental. A
apresentação foi feita ontem (19) à noite na Cúpula dos Povos - evento paralelo
à conferência oficial da Organização das Nações Unidas (ONU) -, no Aterro do
Flamengo.
Ao lado de representantes de organizações como Greenpeace,
WWF e Oxfam, o coordenador do Vitae Civilis, Aron Belinky, disse que para
conseguir o consenso uma série de questões polêmicas foi varrida "para
debaixo do tapete”, sem resolvê-las. “Achamos que essa é uma estratégia
arriscada, que coloca o resultado à frente do que deveria ser encarado”.
Para Belinky, o melhor era ter deixado claro que certo
pontos não tinham o apoio dos negociadores. “Se não tem consenso, que fique
claro que não tem consenso. Que não se faça um documento aguado, que todo mundo
concorda porque não faz diferença nenhuma”, criticou o diretor, sem pontuar os
itens que poderiam ter obtido maior avanço.
O professor da Universidade de São Paulo (USP) Wagner
Costa Ribeiro, que teve acesso a versão do texto final e participou da
avaliação apresentada pelo Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o
Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Fboms) na cúpula, disse que a consolidação
do documento, acordado por 193 delegações, foi forçada e reflete a insatisfação
de várias partes.
“É uma festa onde todo mundo sai descontente”, comentou
Ribeiro. Elaborar o consenso a partir da insatisfação não me parece algo
importante. O que vi realmente não é estimulante porque não cria metas ou
vínculos ou quem vai pagar a conta”, acrescentou.
Ao comparar o documento da Rio92 com o texto da Rio+20, o
professor culpou o cenário internacional, de crise financeira, pela falta de
grandes avanços. Ele também citou a reunião do G20 (que ocorre no México,
paralelamente à Rio+20), as eleições na Grécia e até a Eurocopa (o campeonato
europeu de futebol). “Não diria que foi pior, mas que não teve o mesmo nível de
ousadia”, avaliou.
Os especialistas também criticaram a ONU pela pequena
abertura para participação da sociedade nas negociações da conferência.
“É um espaço limitado, de dois ou três minutos de fala, nos Major Groups. Ou
seja, pequenas intervenções em meio a uma burocracia que não permite o avanço
de uma proposta democrática”, destacou o representante da Vitae Civilis.
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