Setor ainda não viu surgir equivalentes femininos a
Jobs, Gates e Zuckerberg
O Estado de São Paulo – Economia e Negocios
Por Dana Goldstein, Slate*
Os Estados Unidos produziram candidatas viáveis à
presidência, mulheres atletas que comandam milhões de dólares em patrocínios
esportivos, e a primeira economista a ganhar o Prêmio Nobel. Mas ainda não
existe uma equivalente feminina de homens como Steve Jobs, Bill Gates e Mark
Zuckerberg.
As mulheres continuam atrás dos homens na ciência da
computação, setor no qual a parcela feminina da força de trabalho chegou a
diminuir nos últimos 25 anos. Hoje em dia, as mulheres detêm 27% de todas as
posições de trabalho ligadas à ciência da computação, proporção que era de 30% uma
década atrás, e correspondem a apenas 20% dos estudantes universitários de
computação, uma queda em relação aos 36% observados em 1986.
A diferenciação tecnológica tem início em casa, onde os
meninos ganham seus primeiros computadores e videogames mais cedo do que as
meninas, tendo também uma maior probabilidade de se divertir com brinquedos que
desenvolvem as capacidades de raciocínio espacial, como o Lego. Ela continua na
escola, onde as alunas demonstram menos confiança na matemática, na ciência e na
computação, tendência que perdura no universo corporativo.
Mesmo entre os nomes da geração mais jovem de empresas de
tecnologia, como Facebook, Google e Twitter, menos de 10% dos programadores -
principal emprego do setor - são mulheres, de acordo com especialistas na
indústria.
Os efeitos dessa diferença entre os gêneros vão muito além
do baixo número de mulheres que criam jogos de videogame e aplicativos para a
web junto a equipes masculinas (e que tornam a tecnologia mais consciente das
necessidades das usuárias - basta pensar nas respostas que a Siri oferece para
perguntas relacionadas ao aborto e as mensagens machistas publicadas pela Asus
na sua conta do Twitter).
Nos últimos dez anos, o número de empregos criados nos
setores correspondentes à sigla Stem (ciência, tecnologia, engenharia e
matemática, em inglês) foi três vezes maior do que aquele ligado aos demais
setores, e os trabalhadores dos setores Stem apresentaram uma probabilidade
muito menor de enfrentar o desemprego. As mulheres que trabalham em setores
Stem têm salários melhores do que as demais: sua renda média é de US$ 31,11 por
hora, comparada aos US$ 19,26 das mulheres de setores fora do Stem.
A lacuna salarial entre os gêneros também é menor nos
setores Stem: apenas 14%, comparados à diferença de 21% entre os salários pagos
a homens e mulheres do restante da força de trabalho.
Os economistas calculam que essa tendência deve continuar
na próxima década. E, se as mulheres americanas não forem capazes de dar conta
da demanda crescente pela mão de obra nestes setores, as concorrentes o farão.
Brasil, Índia e Malásia estão entre as potências emergentes que contam com
meninas muito mais bem preparadas para lidar com as ciências da computação.
Fronteira. Sheryl Sandberg, diretora de operações do Facebook,
chama a luta para atrair as meninas e as jovens para carreiras no setor da
tecnologia de "a grande fronteira da igualdade de oportunidades para as
mulheres de nossa geração".
E Sheryl tem uma sugestão incomum para a superação desta
diferença: "Deixem suas filhas jogar videogame. Incentivem suas filhas a
jogar videogame!" foi o que ela me disse numa entrevista concedida no
segundo semestre do ano passado.
Embora a maioria dos pais fosse capaz de fazer qualquer
coisa para evitar que os filhos passassem o dia todo na frente de uma tela
jogando games, a experiência com os jogos e com a linguagem dos computadores na
infância foi o que motivou muitos programadores a entrar para o ramo, entre
eles o chefe de Sheryl, Mark Zuckerberg, fundador do Facebook.
O salto para a computação mais avançada não vem apenas da
interação com os jogos - hoje em dia, 94% das meninas brincam com games,
comparado a 99% dos meninos -, e sim da curiosidade em relação ao seu
funcionamento e das tentativas de manipular o código para alterar o resultado
dos games.
Os meninos ainda apresentam uma probabilidade muito maior
de se interessar pela exploração deste tipo de programação simples de
computador, e nem todas as meninas curiosas em relação ao funcionamento dos
computadores têm em casa um pai que as incentive nem o equipamento necessário
para dar vazão a esses impulsos.
Os educadores do ensino fundamental e médio sabem da
importância de levar as meninas a se interessar pelo tipo de "raciocínio
computacional" que torna possível a programação. A Academia de Engenharia
de Software, escola pública cujo currículo será criado em torno da programação
de computadores e do desenvolvimento para a web, vai abrir setembro em Nova
York.
Apenas um quarto da primeira turma será composto por
mulheres, mas os fundadores da escola, que têm vínculos próximos com a
comunidade tecnológica nova-iorquina, têm planos ambiciosos para reunir as
estudantes com orientadoras que trabalhem no setor com o objetivo de reduzir o
atrito, conduzir as garotas para carreiras de destaque e recrutar mais alunas
para as turmas futuras da escola. /
*TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
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