Por
Leide Franco (@LeideFranco)
Era
véspera de meu aniversário, há quase quatro anos. Rodei algumas lojas no
shopping em busca de uma roupa para vestir no grande dia seguinte. Horas de
provas e nada, absolutamente nada caía bem. Voltei para casa. Fui tentar achar
alguma coisa dentro do guardarroupa entupindo, e incrivelmente não tinha
nenhuma roupa.
Quando
estava desistindo encontrei uma calça jeans ainda com etiqueta, guardada a mofo
há mais de um ano. Tentei vestir, não ultrapassou a altura dos joelhos, parecia
que tinha encolhido com o tempo. Foi a partir daí que comecei a mudar de fora
para dentro, num vice e versa.

Mas
falar da minha epopeia não é a intenção deste texto, caro leitor. Quero falar
da Natália, de 23 anos, que conheci esta semana na academia de ginástica que
frequento. Foi daquelas poucas que bato o olho e gosto na mesma hora. A menina
é alta feito uma varapau de quase um metro e oitenta distribuídos uniformemente
em quarenta e cinco quilos. Não é difícil adivinhar que seu apelido de sempre é
Olívia Palito. Mas Natália é só sorrisos e cheia de problemas hormonais que
nenhum médico consegue resolver. “Um dia parei para contabilizar e cheguei a
conclusão de que o que já gastamos com tratamento, daria para comprar casas e
carros só meus”, disse.
Ela
conta que já chegou a comer feito bicho. Jantava uma pizza gigante com dois
litros de refrigerante na tentativa de engordar, mas tudo ia para seu rosto,
transformava-se em monstruosas espinhas aterrorizantes “dá até para confundir
meu olho com essa daqui”, diz apontando, rindo da própria desgraça. Natália já
usou até creme feito exclusivamente para ela vindo dos EUA. Veio das mãos de
médico renomado. Custou uma fortuna que compraria metade da metade de um carro
dos que ela deveria guardar em casa, “mas foi como água”, lamentou.
Natália
é a figura mais estranha de toda a academia, mas a mais doce. Está frequentando
esse ambiente de gordinhos, fortes, musculosos e de todos os outros tipos de
gente para ganhar massa muscular. “Não gosto. Queria mesmo era ganhar gordura,
mas não tem jeito, nem que eu coma todos os toucinhos de todos os porcos do
mundo, com certeza, não vou engordar”. Tudo que Natália come de gordura vira
espinhas vulcânicas que procuram espaço nos cantos incabíveis do rosto dela e
também nas costas. O jeito é fazer musculação para “engordar”.
Caros,
a minha função desde então é a de tentar dar força a Natália. Dar força aos
pensamentos e à força de vontade dela, pois os braços e pernas magricelas mal
conseguem levantar quarenta quilos na leg press. A impressão é que a qualquer
momento vão se partir ao meio, mas são muito mais fortes que os da gente.
Cheguei a conclusão.
Natália
se cansou de vestir 34 quando é em número, se for em letra, ah... às vezes cabe
um PP, pequeno feito criança. “Quero usar jeans de gente grande. Preciso crescer
para os lados também. Eu seria a pessoa mais feliz do mundo se fosse gorda. O
ideal seriam uns quarenta quilos a mais”, exclama como quem não mede o peso de
quarenta quilos em cima dos quarenta e cinco poucos existentes em seu corpo
esguio, reto feito tábua de passar roupas.
Hoje
me peguei pensando sobre o formato e o tamanho que tem a felicidade de cada um.
Nenhuma é igual. Algumas pessoas só seriam felizes com o manequim 38 em
perfeição com o corpo, no entanto estão acima da média. Outras não.
E
assim vamos acompanhando as coisas da vida. Uns se esforçam para emagrecer,
outros continuam se esforçando para não engordar, uns cultuam os músculos
fortes e inflados e outros... Só querem engordar. Natália só quer ter um corpo
enorme, minha gente! Ela nem se importa com as consequentes e desagradáveis
celulites e gorduras por cima do cós da calça, aquelas que formam o famigerado
“pneu”. É somente dessa maneira que ela seria altamente, enormemente feliz. E
quem sou eu ou quem é você para estranhar a fórmula da felicidade dos outros?
Pois, como já sabemos, ser feliz é o que sempre e mais importa, sendo feio,
bonito, baixo, alto, gordo ou magro.
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