Documento que detalha o tratamento de resíduos passa a
ser exigido pelo governo como contrapartida para a liberação de recursos
Iuri Dantas, Rafael Moraes Moura / Brasília – O
Estado de S. Paulo
Mais de 90% dos municípios brasileiros não produziram um
plano para tratamento do lixo e de resíduos industriais, o que coloca em risco
a meta do País de eliminar em dois anos os lixões. Previsto em lei, o documento
passa a ser exigido pelo governo federal a partir de hoje como contrapartida
para liberar recursos da União.
Dados do Ministério do Meio Ambiente mostram que apenas
291 cidades aprovaram um plano municipal de resíduos sólidos, enquanto 197
municípios ainda analisam projetos. Portanto, 488 das 5.565 prefeituras se
habilitam a receber dinheiro federal para manejo do lixo, o que equivale a 8,8%
das cidades.
Por amostragem, a Confederação Nacional de Municípios
estimou que 49% das cidades nem sequer iniciaram a preparação do plano e outros
42% ainda não o finalizaram. O levantamento, divulgado ontem, foi feito no mês
passado com 3.457 municípios. Entre as cidades que ainda não começaram, os
principais motivos alegados foram a falta de recursos financeiros e técnicos e
o desconhecimento da lei.
Os números são especialmente preocupantes, na visão de
analistas, pois cabe aos municípios a gestão do lixo. Segundo a lei, os
documentos devem ter metas de coleta seletiva e um cronograma para a destinação
adequada de resíduos hospitalares e industriais. A elaboração do plano não é
obrigatória, mas o governo federal exige o documento para liberar verbas da
União.
Sem esse dinheiro, não há chance de as cidades eliminarem
os lixões até agosto de 2014, afirmou Simone Nogueira, sócia do Siqueira Castro
Advogados responsável pela área de meio ambiente em São Paulo. "Foi muito
ingrato o prazo escolhido, cai no momento em que fecham as gavetas para
mudanças nas prefeituras. Isso faz com que as administrações municipais não
tenham se preocupado."
O presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, acusa o governo
federal. "Enquanto Brasília continuar fazendo leis inexequíveis, que criam
expectativa, vai gerar frustração. Não adianta fazer a lei artificialmente, ela
não vai ser cumprida."
Plano paulistano. A capital paulista publicou anteontem seu plano,
mas sem as especificidades exigidas por lei, como metas para coleta seletiva. A
pressa em não perder acesso ao dinheiro da União pode sair pela culatra porque
o governo Dilma Rousseff promete aceitar somente os documentos que cumpram todos
os requisitos.
"Nós, do Ministério do Meio Ambiente, não achamos que
é importante fazer cópia e cola de plano só para atender à exigência, tem de
pegar mesmo o conteúdo mínimo", disse o diretor de Ambiente Urbano,
Silvano Silvério. Para a pasta, a exigência dos planos municipal e estadual
entra em vigor hoje, mas os municípios que não os concluíram poderão
apresenta-los mais à frente, no momento em que pedirem verbas da União.
A interpretação do governo foi elogiada por Simone.
"É uma interpretação da realidade, uma adaptação do texto da lei à
pratica, senão inviabilizaria. Já vejo o ministério flexibilizando, caso
contrário seria inviável, porque os municípios não teriam como fazer",
disse Simone.
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