Estudo aponta que nos últimos quatro anos percentual de
brasileiros que declara intenção de economizar aumentou de 29% para 72%.
Dívidas e novo padrão de consumo não deixam
iG São Paulo
Em meio à enxurrada de medidas do governo para manter o
consumo aquecido e a economia em alta, o número de brasileiros que consideram a
possibilidade de poupar para o futuro está crescendo. Em 2008, 29% dos
entrevistados pela empresa de pesquisa Kantar para a elaboração do relatório
Kantar Worldpanel diziam ter intenção de guardar algum dinheiro. Neste ano, o
percentual foi de 72%. Mas o mesmo estudo mostrar que, por ora, é só intenção.
Leia também: Mais endividado, consumidor compra menos
O motivo é o alto endividamento da população e o
comprometimento da renda com a compra de uma série de bens e serviços aos quais
não tinha acesso recentemente. Principalmente nas categorias de transporte,
habitação e vestuário. Na prática, os brasileiros estão ganhando mais, mas
também estão gastando mais, mostra o estudo. A renda média, que em 2008 era de
R$ 1.558, chegou a R$ 2.373, neste ano. Mas no mesmo período os gastos médios
também subiram em linha, de R$ 1.540 para R$ 2.350.
“Começa a haver um encantamento das pessoas com a
possibilidade de guardar dinheiro para o futuro”, afirma o professor Adriano
Gomes, do curso de administração da ESPM. “Mas ainda deverá levar uns dois ou
três anos para que alcancemos um ponto de inflexão. É o tempo necessário para
que as pessoas amortizem suas dívidas”, avalia.
Leia também: Endividamento das famílias cresce 59,8% em agosto
Segundo o mesmo levantamento da Kantar, atualmente mais de
metade dos brasileiros gastam acima do que ganham. Em 27% dos casos, o
descontrole é considerado grave. Neste grupo predominam jovens de até 29 anos e
casais com filhos, que gastam principalmente com habitação. Debaixo da rubrica
habitação estão gastos com financiamento de imóveis, reformas e aluguel, mas
também com bens duráveis usados para equipar a casa.
Outros 25% gastam um pouco menos do que ganham e, 23%,
ganham ligeiramente mais do que gastam. Com sobras, mesmo, restam somente 25%
dos brasileiros, um grupo no qual predominam donas de casa acima dos 50 anos e
o que a Kantar classifica como independentes: solteiros, casais sem filhos ou
casais com filhos adultos fora de casa e viúvos.
Na divisão por estratos de renda, porém, a única que gasta
mais do que ganha é a classe C. Em média, a renda desse grupo, que representa
41% da população, é de R$ 2.027,70 e, os gastos, de R$ 2.060,12, uma diferença
negativa de 2%. Na outra ponta, quem economiza mais proporcionalmente (4%) é
quem ganha menos. Nas classes C e D, onde se enquadram 35% dos brasileiros, a
renda média é de R$ 1398,88 e os gastos são de R$ 1.349,85. Nas classes A e B a
folga no orçamento é de 1%, em média, em uma renda de R$ 4.372,58 e gasto de R$
4.295,75.
Sobra quase nada para o futuro. Segundo Christine Pereira,
diretora comercial da Kantar, o motivo é que ainda há uma série de bens que os
brasileiros estão “conquistando” e muitos outros que gostariam de comprar.
Tanto que um comportamento comum dos consumidores, afirma, têm sido reduzir o
número itens de bens de consumo comprados, ou a frequência de compra, para que
sobre dinheiro para a compra de outros bens. "Mas o consumidor não está
deixando de comprar nada (em bens de consumo), só está comprando menos",
diz a executiva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário