Apesar dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad) 2011, divulgada na última sexta-feira (21) pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontarem pequenos avanços na
área de educação, a melhoria é muito lenta para o patamar de qualidade em que o
Brasil se encontra.
Agência Brasil
A opinião é da diretora executiva do Movimento Todos pela
Educação (MTE), Priscila Cruz, advogada que atua na defesa da educação de
qualidade há dez anos. Segundo ela, o critério usado pelo IBGE para definir
analfabetismo não leva em conta o nível de proficiência dos alunos em leitura e
escrita.
“Alfabetização é muito mais do que escolarização. O IBGE
olha os jovens e adultos com mais de 15 anos, aqueles que têm quatro anos ou
mais de escolaridade já é considerado alfabetizado. Mas como a gente tem uma
qualidade de educação muito ruim no Brasil, o que acontece é que tem muita
criança de 11, 12 anos, jovem que está no ensino médio com 15, 17 anos, que
ainda é analfabeto. Infelizmente isso ainda é uma realidade no nosso país”,
explica Priscila.
Ela disse que uma das metas do MTE é que toda criança
esteja plenamente alfabetizada aos 8 anos de idade, o que não ocorre atualmente.
“A Prova ABC (uma parceria da Organização Não Governamental (ONG) Todos pela
Educação com o Instituto Paulo Montenegro, a Fundação Cesgranrio e o Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) mostrou que, das crianças de 8
anos no Brasil, só metade é plenamente alfabetizada. É um dado bem diferente
daquele do IBGE. É diferente fazer a prova e testar ou perguntar quantos anos
de estudo tem e ela ser considerada alfabetizada”.
Priscila admite que houve avanços. Porém, eles ocorrem
muito devagar. “A gente vem melhorando só que num ritmo muito lento. Se a gente
tivesse num patamar mais alto, melhorar lentamente não seria tão ruim. A gente
está num patamar muito baixo e melhorando muito lentamente, vai demorar muito
pra gente conseguir garantir o direito de todos os alunos a ter educação de
qualidade”.
A diretora da ONG aponta que, apesar de 98,2% da população
de 6 a 14 anos, correspondente ao ensino fundamental, estarem na escola, se for
levado em conta desde a educação infantil até o ensino médio, o Brasil tem 3,8
milhões de crianças e jovens fora da escola. A situação é pior entre os
adolescentes de 15 a 17 anos, que deveriam estar no ensino médio. Nessa faixa
etária, a taxa de escolarização caiu de 85,2% em 2009 para 83,7% em 2011.
“O ensino médio vive uma crise de identidade: esses alunos
não veem sentido nesse ensino médio, acabam evadindo, saem antes do tempo de se
formarem e a gente está perdendo esses jovens. São jovens que, na sociedade
atual, século 21, sociedade do conhecimento, não concluíram nem o ensino médio,
é ter aí um extermínio de jovens”, alerta Priscila.
A diretora executiva do Movimento Todos pela Educação
lembra que existem experiências de outros países e também dentro do Brasil que
apontam caminhos a serem seguidos para melhorar o desempenho dos alunos.
“Acho que tem de investir em professor: eles são muito
mais formados para serem teóricos da educação. Tem que ter um maior número de
escolas em tempo integral, tem que ter avaliações que realmente ajudem os
gestores a formularem suas políticas e incorporar a avaliação como ferramenta
para avançar”.
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