O mundo pode viver uma crise alimentar global, como as
de 2007 e 2008, caso os governos não adotem medidas urgentes para reverter a
alta dos preços. O alerta foi publicado ontem (4) por três agências da
Organização das Nações Unidas (ONU), com sede em Roma.
Agência Brasil
A crise é motivada pela quebra de safra das principais
regiões produtoras do mundo, o que tem pressionado os preços no mercado
mundial. “Somos vulneráveis porque, mesmo em um bom ano, a produção mundial de
cereais é apenas o suficiente para atender a crescente demanda por alimentos,
ração e combustível. Em um mundo onde há 80 milhões a mais de bocas para
alimentar a cada ano, nós estamos em perigo, já que apenas um punhado de
países são grandes produtores de alimentos básicos”, destacou o comunicado
conjunto assinado por representantes da Organização das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação (FAO), do Fundo Internacional para o Desenvolvimento
Agrícola (Fida) e do Programa Alimentar Mundial (PAM).
Os produtores de milho, trigo e soja de várias regiões do
mundo têm registrado prejuízos históricos em função da forte seca. Nos Estados
Unidos, por exemplo, onde o cultivo de milho já apresentou saldos decrescentes
no ano passado, os agricultores estimam perdas em torno de 20% a 30% com a
estiagem deste ano. Os prejuízos podem ultrapassar a marca das 130 milhões de
toneladas, se somadas as lavouras de soja e milho.
As lideranças das três agências da ONU defendem uma ação
internacional conjunta para reverter o cenário. “Há duas questões interligadas
que devem ser abordadas: a questão imediata dos altos preços de alguns
alimentos, que podem afetar significativamente os países dependentes da
importação de alimentos e as pessoas mais pobres, e o problema a longo prazo de
como produzir, comercializar e consumir alimentos em um momento de crescimento
da população, da demanda e de mudanças climáticas.”
Os dirigentes da FAO, Fida e PAM destacaram que o impacto
da alta dos alimentos recai de formas diversas sobre diferentes economias e
apontaram estratégias de solução, como o maior investimento no segmento de
pequenos produtores de alimentos para que possam aumentar a produtividade,
acesso aos mercados e reduzir a exposição ao risco.
“Adotamos uma abordagem de duas vias que apoia
investimentos de longo prazo na agricultura, principalmente dos pequenos
produtores, assegurando que as redes de segurança [alimentar] estão no local
para ajudar os consumidores e produtores de alimentos pobres e evitar a fome,
perda de bens e a armadilha da pobreza no curto prazo”, destacam.
Apesar da referência à crise de 2007, quando os níveis de
produção e estoque baixaram drasticamente levando vários países a restringirem
o consumo e adotarem políticas de subsídio e estímulo à exportação para
solucionar o problema, os organismos das Nações Unidas reconhecem que o mundo
está mais preparado do que há cinco anos.
A instituição do Grupo de Trabalho sobre Segurança
Alimentar Alto Nível Mundial e de Informação de Mercado Agrícola Sistema G20
(Amis, na sigla em inglês), foram apontados como exemplos desse avanço.
Apesar do tom de alerta, as agências da ONU acrescentaram
que, neste cenário, “as coisas que devem ser evitadas são tão importantes
quanto aquelas que devem ser adotadas”. O comunicado ressalta que os países
devem evitar compras motivadas pelo pânico e se abster de impor restrições à
exportação que, embora temporariamente ajude alguns consumidores no mercado
interno, são geralmente ineficazes.
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