Um tema recorrente quando se debate a política
municipal brasileira é o baixo nível político dos representantes locais.
Trata-se de uma evidência, irrefutável.
Por Bruno Lima Rocha*
A baixa compreensão da política nota-se de forma
exagerada, especialmente em momentos de campanhas, com destaque na disputa para
vereança.
Embora reconheça este aspecto como uma deficiência de
nossa democracia, o problema não se supera por decreto. É preciso uma série de
movimentos, dentre eles a polêmica necessidade de uma formação política prévia.
Idealmente, uma república formaria cidadãos plenos de
direitos e deveres, e seria dotada de instituições formadoras de uma cultura
cívica. Assim, o treinamento para a política seria parte da educação pública,
massiva e universal, incluída nos currículos escolares, ao menos do ensino
médio.
Ao massificar a compreensão das disputas sociais por poder
e recursos, as maiorias estariam em condições de se contrapor às oligarquias
partidárias, quebrando a estrutura que tende a reproduzir elites políticas.
Entendo ser simplesmente impossível o aumento da
participação política se esta não for precedida de no mínimo três aspectos:
formação massiva, tendo como base os direitos constitucionais; a organização social,
promovendo as lutas reivindicativas e mecanismos institucionais de consulta
pública, como plebiscitos e referendos para as decisões fundamentais de uma
sociedade.
Pois bem, o tipo-ideal de formação para a política narrado
acima é justamente o oposto do que ocorre no mundo real.
Para piorar o modelo, a massificação da concorrência
política se verifica nas disputas municipais, onde impera o senso comum e a
cultura política dominante. Esta é, hegemonicamente, paroquiana, localista,
clientelista e movida por interesses e pautas imediatas.
A contradição está aí. As minorias organizadas, em tese,
teriam de transformar a sociedade, e não simplesmente reproduzir os
comportamentos já estabelecidos.
No jargão da política profissional, os candidatos a
vereança “amassam barro com poeira”, recrutando as energias sociais existentes
(como clubes de mães, times de várzea, escolas e blocos de carnaval), muitas
vezes apelando para interesses familiares no apoio a suas candidaturas. É esta
a base do clientelismo de baixa intensidade.
Romper com este mecanismo cruel é condição prévia para
melhorar o nível da política brasileira. Sem a massificação de uma cultura
participativa, teremos a permanência e a naturalização dos grotescos
espetáculos observados nas campanhas municipais do país.
*Bruno Lima Rocha é cientista político
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