Amanda
Cieglinski
- Agência Brasil
Responsáveis
por 88% das matrículas do ensino médio do país, as escolas públicas são maioria
entre as que ficaram com nota abaixo da média nacional no Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem) de 2010. Entre os estabelecimentos de ensino que tiveram desempenho inferior à média nacional na prova objetiva (511,21 pontos), 96% são públicos. Esse dado
descarta os colégios que tiveram participação inferior a 2% ou com menos de 10
alunos inscritos e, por esse motivo, não recebem uma nota final.
No
total, 63% das escolas que participaram do Enem no ano passado ficaram com
desempenho inferior à média nacional. Para o ministro da Educação, Fernando
Haddad, a distância entre os resultados é “intolerável” e precisa ser reduzida.
Ele avalia, entretanto, que muitas vezes o baixo desempenho está relacionado não
apenas às condições da escola, mas de seu entorno.
“Às
vezes, as condições socioeconômicas das famílias explicam muito mais o
resultado de uma escola do que o trabalho do professor e do diretor. E, muitas
vezes, as escolas são sobrecarregadas com responsabilidades que não são 100%
delas. É muito diferente uma escola de um bairro nobre de uma região
metropolitana de classe média, cujo investimento por aluno é dez vezes o
investimento por aluno da rede pública, de uma escola rural que atende a filhos
de lavradores que não tiveram acesso à alfabetização”, pondera o ministro.
O
Instituto Nacional de Estudos e Pequisas Educacionais (Inep) divulga hoje (12)
as notas de todas as 23,9 mil escolas que participaram do Enem em 2010. O órgão
decidiu alterar o formato de divulgação do resultado por escola, que agora
levará em conta o percentual de estudantes daquela unidade de ensino que
participaram do exame. A mudança pretende reduzir distorções na divulgação dos
resultados no caso de escolas em que a participação dos alunos é pequena.
Considerando
apenas as escolas com alto índice de participação no Enem (mais de 75% dos
alunos), apenas uma pública está entre as 20 melhores do país: o
Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa (UFV). A média obtida
pela escola mineira foi 726,42 pontos, levando em conta a média entre a prova
objetiva e a redação.
Para
Mozart Neves Ramos, membro do Conselho Nacional de Educação (CNE) e do Conselho
de Governança do movimento Todos Pela Educação, a ausência de escolas públicas
entre as melhores do Enem não é novidade e deriva da desigualdade de acesso a
oportunidades educacionais no país.
“Esse
quadro é um reflexo do próprio apartheid [regime de segregação racial na África
do Sul], causado por uma educação que não é oferecida no mesmo patamar a todos
desde a alfabetização. As avaliações mostram que essa desigualdade [da
qualidade do ensino oferecido por públicas e particulares] começa lá atrás e
vai se acentuando ao longo do percurso escolar. O jovem da escola particular
chega ao nível de formação e aprendizado esperados quando termina o ensino médio,
mas o da escola pública chega com três ou quatro anos de déficit na
aprendizagem. A luta é desigual”, avalia.
Os
resultados de cada escola estarão disponíveis para consulta na manhã de hoje
(12) no site do Inep.
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