O
movimento de protesto nos EUA teve um dia diferente em Nova York: piquetes de
centenas de pessoas se manifestaram às portas de cinco dos maiores milionários
de Manhattan, começando pela casa de Rupert Murdoch.
Por
Mauro Santayana, em seu blog
Outras
residências visitadas foram as dos banqueiros John Paulson, Jamie Dimon, David
Koch, e Howard Millstein – todos eles envolvidos nos grandes escândalos de Wall
Street, e socorridos por Bush. Os lemas foram os mesmos: que tratassem de
devolver o que haviam retirado da economia popular.
A
polícia limitou-se a conter, com barreiras, os manifestantes. Mas a mesma coisa
não ocorreu em Boston. A polícia municipal atuou com extrema violência durante
a madrugada de ontem, atacando, com porretes, dezenas de manifestantes e
ferindo dois veteranos de guerra, um deles, de 74 anos, ex-combatente no
Vietnã. O “Occupy Together” atingiu mais de 1.200 cidades norte-americanas, em
preparação para as grandes concentrações nacionais no próximo sábado, dia 15.
Conforme
o jornalista americano David Graeber, em incisivo artigo publicado pelo The
Guardian, os jovens, e também homens maduros, vão às ruas nos Estados Unidos em
busca de empregos, de boa educação, de paz, é certo, mas querem muito mais do
que isso. Eles contestam um sistema que deixou de servir aos homens, para
servir apenas aos banqueiros e a um capitalismo anacrônico. “Para que serve o
capitalismo?”, é uma de suas perguntas. Eles contestam um sistema baseado no
consumo supérfluo de uns fundado na negação das necessidades básicas de 99% da
população de seu país. Descobriram que o seu futuro, os seus sonhos, o seu
destino e a sua vida foram roubados pelo sistema que deixou de ser democrático.
Os
neoliberais no mundo inteiro fazem de conta que esses protestos nada
significam, e muitos deles continuam sem perceber o que está ocorrendo. Tem
sido sempre assim na História. Na noite de 4 de agosto de 1789, quando, a
Assembléia revolucionária da França aboliu os privilégios feudais da nobreza,
Luis XVI, que seria guilhotinado menos de três anos depois, escreveu em seu
diário: hoje, nada de novo. Como bem registrou Paul Krugman, em seu artigo no
New York Times, os manifestantes não são extremistas: os verdadeiros
extremistas são os oligarcas, que não querem que se conheçam as fontes de sua
riqueza.
Não
percebem os políticos o processo revolucionário em marcha que, de uma forma ou
de outra, atingirá todos os países do mundo. Ao globalizar-se, pela imposição
do sistema financeiro, a economia, globalizou-se a reação dos povos ao sistema
totalitário e criminoso. Seria a hora de um entendimento entre os estadistas do
mundo, a fim de chamar os especuladores à razão e colocar o Estado ao serviço
da justiça, retornando-o à sua natureza original.
Na
Europa e nos Estados Unidos o que se vê é o Estado socorrendo os banqueiros
fraudulentos, e os ricos insistindo na receita neoliberal clássica, de ajustes
fiscais, de redução dos serviços sociais, do arrocho salarial e da demissão
sumária de imensos contingentes de trabalhadores, a fim de garantir o lucro dos
especuladores.
Nos
anos oitenta, os paises emergentes de hoje, entre eles o Brasil, estavam
atolados em uma dívida internacional marota, gerada pela necessidade de rolar
os bilhões de eurodólares, e não dispunham de recursos. Mme Thatcher disse que
o Brasil teria que vender as suas terras e florestas, a fim de pagar o que
devia. Hoje, trinta anos depois, a Grécia está vendendo tudo o que pode, até
mesmo monumentos históricos, enquanto parcelas de seu povo começam a passar
fome.
Quando
os africanos morrem de fome e de epidemias, como voltaram a morrer agora, não
há problema. Para os brancos, europeus ou americanos, é alguma coisa que não
lhes diz respeito. A África não é outro continente: é outro mundo. Mas, neste
momento, são brancos, de cabelos louros e olhos azuis, como os manifestantes de
Boston – jóia da velha aristocracia da Nova Inglaterra – que vão às ruas e são
espancados pela polícia. A revolução, como os próprios manifestantes denominam
seu movimento pacífico, está em marcha.
Há
é certo, algumas providências na Europa, como a estatização do banco belga
Dexie, mas se trata de um paliativo, quando Trichet, o presidente do Banco
Central Europeu recomenda injetar mais dinheiro no sistema financeiro privado.
Mais astuto, o governo da China reforçou a presença estatal no sistema
financeiro, aumentando a sua participação nos bancos de que é acionista
majoritário.
E
o mundo se move também na política. Abbas – o presidente da Autoridade Nacional
Palestina, que luta pelo reconhecimento pela ONU de seu Estado nacional – em
hábil iniciativa, esteve anteontem e ontem em Bogotá.
Ele
fez a viagem a Colômbia, sabendo que dificilmente o apoiariam: o país hospeda
bases militares americanas e, ontem mesmo, um comitê do Senado, em Washington,
aprovou o Tratado de Livre Comércio entre os dois países. Assim, o presidente
Juan Manuel Santos limitou-se a declarações protocolares de apoio à paz no
Oriente Médio, o que não impedirá a caminhada da História.
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