Com
os países ricos estrangulados pela crise global, as agências de turismo
europeias saíram à caça de clientela - e o Brasil, em alta, vem concentrando as
atenções. De acordo com a Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav),
pacotes para Portugal, Itália, Grécia e Espanha - nações que estão no centro da
turbulência - estão, em média, 15% mais baratos em relação ao mesmo período do
ano passado. Em algumas empresas de turismo, a queda nos preços verificada em
hotéis chega a 20%.
O Globo
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Muitas operadoras de turismo europeias baixaram os preços dos serviços que são
vendidos às operadoras brasileiras para atrair brasileiros e, assim, compensar
a perda do fluxo de turismo interno - revela o presidente da Abav Nacional,
Carlos Alberto Amorim.
A
SóViagens, no shopping Cittá America, na Barra da Tijuca, está vendendo
reservas em hotéis em Portugal por preços 15% menores, calcula Athayde Botto,
diretor da agência. Ele citou ainda o recuo de 20% nos valores da hospedagem em
Atenas, na Grécia. Nas últimas semanas, a capital grega tem sido palco de
violentas manifestações e greves gerais.
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A crise na Europa acabou reduzindo o preço dos hotéis. Na Grécia, o reflexo
maior é em Atenas. Mas, nas ilhas gregas, que estão isoladas do caos, os
valores seguem em alta, pois há muitos cruzeiros, o que mantém a demanda
aquecida - explicou Botto.
A
estagnação da economia dos Estados Unidos está retraindo também os turistas
americanos.
Ilhas
gregas continuam em alta
Foi
de olho nesse movimento de preços que a estudante de 22 anos Lilian Lessa
decidiu alterar o destino da viagem de intercâmbio que fará em janeiro de 2012.
Ela trocou a Austrália pela Irlanda. Lilian tem amigos estudando e trabalhando
no país europeu e diz que estudar lá atualmente está mais barato do que há um
ano e muito mais em conta do que na Austrália. A economia obtida com a mudança
de destino permitirá que ela fique mais tempo viajando. Dos cinco meses
inicialmente planejados, agora passará seis meses fora.
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Acabou ficando bem mais barato, mesmo o euro sendo mais caro que o dólar.
Fiquei impressionada com o valor da acomodação. Uma semana na Irlanda custa 100
(R$ 246), contra US$ 400 (R$ 700) na Austrália - detalhou Lilian.
O
movimento é endossado pela agência de intercâmbio World Study, que já verificou
aumento na procura para alguns países da Europa.
O
setor de turismo agora se recupera do susto sofrido no mês passado, quando no
Brasil o câmbio sofreu forte turbulência - causada pela crise internacional e
especulações no mercado futuro - e o dólar comercial chegou a R$ 1,89. O câmbio
turismo chegou a passar de R$ 2. A moeda havia atingido seu piso em 26 de julho
(R$ 1,53). Botto, da SóViagens, lembra que viu o total de reservas cair de 30
para 5. Mas em outubro voltou a recuar e, ontem, fechou a R$ 1,752.
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Quando o dólar voltou a cair, as pessoas voltaram a fazer as reservas e tudo se
normalizou. Hoje, os voos da Europa estão praticamente lotados durante o mês de
janeiro - diz Botto.
Segundo
Amorim, da Abav, o medo da variação do dólar vai reduzir os gastos nas viagens
ao exterior.
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A maioria do pacotes para o fim de ano já estava vendida no fim de setembro,
então não houve um impacto neste sentido, pois em setembro já estavam
praticamente esgotados.
A
Best Destination, que tem foco na Grécia, disse que, ao contrário de países
como o Egito, onde houve queda brutal da procura, a Grécia não sofreu recuo. Um
pacote terrestre (hotel mais traslado) para uma pessoa durante uma semana está
em US$ 960. Em novembro, os preços devem ter uma redução de 5%, já que começa a
baixa temporada, em virtude do inverno. A Abreu Tur, que tem como carro-chefe a
Europa, disse que as expectativas já não são as mais otimistas:
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Acho que a procura cairá naturalmente a partir de novembro até março - disse o
gerente de atendimento, Sergio Vianna, acrescentando que a Abreu Tur pretende
investir bastante na Grécia na próxima temporada, a partir de abril, com o
lançamento de dois novos circuitos, com Grécia e Turquia.
Ele
conta ainda que Portugal e Irlanda também não tiveram alteração na procura. Mas
não sabe dizer a fatia desses países em suas vendas. Vianna esteve na Irlanda
no primeiro semestre deste ano, em Dublin e Belfast.
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A Europa internamente vive uma atmosfera de crise, mas que não se reflete no
dia a dia das pessoas, nada de revoltas populares.
Câmbio
muda planejamento
Na
CVC, as vendas para a Europa seguem em ritmo estável, com recorde de procura
para Paris no fim de ano. De acordo com a companhia, a cotação do dólar só
começa a afastar os brasileiros das viagens ao exterior a partir de R$ 2. Mesmo
com aumento, segundo a empresa, o que muda é a forma de organizar a viagem,
levando as pessoas a se planejarem mais. Com a chegada do verão, os roteiros
nacionais ganham mais destaque e pelo menos 65% dos clientes da CVC começam a
procurar destinos no Brasil, em especial as praias do Nordeste (Porto Seguro,
Natal, Fortaleza, Maceió, Salvador).
Eliane
de Ainzestein, da Shilton, consultoria em seguros e viagens, acrescenta que os
pacotes nacionais estão com preços elevados - o que acaba fazendo com que
muitos brasileiros optem por viajar para fora do país.
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Os voos de fim de ano para a Europa estão lotados, assim como hotéis. A crise
lá fora ainda não assustou os turistas brasileiros - disse Eliane, acrescentando
que a elevação do dólar é atenuada com os parcelamentos disponíveis no mercado.
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