*Artigo
de Louise Marinho
Montaram
uma arena no descampado que é a vista da janela do meu quarto, da sala também
dá pra ver. Essa arena, através dos cartazes espalhados pela cidade, sempre
soube que serviria de matadouro, de palco para a chamada ‘tourada’. Sempre com
repudio e compaixão ‘esperei’ a data da tal ação, para estar longe de casa, ou
de janelas bem fechadas.
Estava
dormindo, fazendo minha siesta, quando acordo com trompetes, tambores e palmas.
Deduzo que seja a tal matança.
Existe uma banda tocando uma música funérea, ou o que era pra ser um alegro,
não sei. Nunca ouvi musica mais triste, nunca ouvi algo mais sombrio. Eram os
instrumentos e os aplausos, aquela velha mistura que por tantas vezes nos
embalaram em danças, pensamentos... Como aquilo pode ser também algo tão negro
e pesado? Logo se ouvem vozes, muitas vozes, risadas e mais aplausos. E o
trompete ressoando. Isso se segue por pouco mais de 20 minutos. A tourada é
rápida, menos pomposa do que imaginava.
Ainda
deitada, imagino esses homens e mulheres, os carrascos e algozes, como um
grande e nojento homem, como um pedófilo molestando ‘sua criança’, como também
aqueles que por pura `não sei o que` assistiam/assistem a torturas e execuções
de pessoas.
Quando
me levanto e finalmente olho pela janela, vejo três homens tradicionalmente
vestidos, dos sapatos ao ego, saindo acompanhados por mais dois, não tão bem
vestidos, mas também imundos. A platéia vai ao delírio, são gritos e palmas
(que remexem tudo aqui por dentro) para os matadores, para a tal cultura. Eles
erguem chapéus e lenços brancos o touro continua na arena, se debatendo. A cada
movimento novos gritos e palmas. O asco e o horror já são tão fortes no meu
peito, que escapa e chega ao meu rosto. A Dani, minha colega, já chegou a
garganta, ela grita, xinga. Me valho dela, em mim o silêncio continua, a
tristeza aumenta. Nunca imaginei que fosse tanto o que eu já imanava muito. O
touro morreu, as pessoas vão saindo. Claro, ainda gritando e rindo alto, como
as bruxas dos contos de fadas. Logo uma música altíssima, um regaton, começa a
tocar, e passou, acabou o show de hoje.
Pra
mim o espetáculo continua, estou de luto, mas saio de branco, a minha luta é
pela vida, paz.
*Louise Marinho, 21 anos, de
Natal, estudante, está na Espanha para cursar um semestre do curso de
Publicidade e Propaganda. Foi chamada pra falar um pouco das suas impressões e
vivências madrilenas por aqui, no Calangotango. Mas avisa que “na Comunicação Social
sou apenas uma estudante, aspirante a redatora”.
Quanto
as suas outras qualificações, habilidades e virtudes, querendo saber, procurem
no louisemarinho@hotmail.com
Bem,
divirtam-se com a Louise aqui no Calangotango.
Ela
estará por aqui duas vezes por mês.
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