Vinte
e dois anos após sua morte, finalmente Raul Seixas, ícone máximo do rock'n'roll
brasileiro, está ganhando uma biografia a sua altura. E feita por um peso
pesado do cinema nacional, o diretor Walter Carvalho, de Janela da Alma e
Cazuza.
Fonte:
Folha de S. Paulo
Raul
Seixas - O Início, o Fim e o Meio será exibido pela primeira vez no Festival do
Rio, no dia 17. O filme cutuca vários vespeiros e elucida pontos obscuros de
sua carreira.
"O
Raul era um artista que tinha pressa, inquieto, provocador e libertário. A
ideia foi filmar o mito do jovem artista que se consome e morre por sua
obra", diz Walter.
Há
imagens inéditas e eletrizantes de Raul no palco, como as do festival de
Saquarema em 1976, idealizado por Nelson Motta nos moldes de Woodstock.
O
filme também realiza a proeza de entrevistar as cinco ex-mulheres e três filhas
que Raul deixou, superando um histórico familiar de desavenças.
Outro
trunfo é a tentativa de esclarecer a frutífera e conturbada parceria entre Raul
e Paulo Coelho, iniciada em 73 e que rendeu clássicos como Al Capone ou Eu
Nasci Há Dez Mil Anos Atrás.
Durante
rara entrevista em que aceita falar sobre o ex-parceiro, Coelho entrega:
"Era um casamento com tudo menos sexo. Mas era complicado, havia
competição".
"Não
me arrependo de ter apresentado as drogas a ele. Um cara com aquela idade (25
ou 27) já sabia o que estava fazendo. Maconha, ácido, chá de cogumelo – aquilo
fazia parte da minha cultura."
Surpresa: a certa altura uma mosca invade não a sopa, mas a
sala de sua casa na Suíça, e tenta pousar no rosto de Paulo, o que o irrita.
Ele diz: "Curioso, primeira vez que aparece uma mosca em Genebra. Aqui não
tem".
Em
outro recorte, fala sobre a Sociedade Alternativa, inspirada no satanismo, que
fundou com Raul em 74.
"Foi
um período negro. Aquilo era magia radical, fora de qualquer ética",
lembra, enquanto são exibidas imagens de rituais com animais de Contatos
Imediatos do Quarto Graal, filme em super-8 feito à época.
Walter
Carvalho diz ter reunido mais de 400 horas, entre filmagens e imagens de
arquivo. Mais de 90 pessoas foram entrevistadas.
Começando
pelos tempos da juventude em Salvador, gênese da sua exuberante mistura entre
rock e baião, personagens esquecidos ressuscitam do baú.
Caso
de Dalva Borges, que cuidou de Raul nos seus últimos suspiros. Para o filme,
reconstitui "in loco" a manhã em que encontrou o músico morto no seu
apartamento.
Há
mais boas surpresas – como Caetano cantando Ouro de Tolo. E outra controversa
parceria, com Marcelo Nova, é esmiuçada no filme.
Talvez
a única lacuna seja a ausência do episódio de Caieiras, em 82, quando Raul foi
confundido com um sósia em um show e quase acabou linchado. Mas disso os fãs
não podem reclamar: Rita Lee interpreta Raul otimamente, nessa exata situação,
no curta Tanta Estrela por Aí (1993), de Tadeu Knudsen.
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