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Foto/AFP |
O
Globo
Eles
escolheram um slogan capaz de acolher todo tipo de descontentamento. Da crise
econômica à diplomacia, passando por bancos, corrupção e até pelo aquecimento
global. Capaz de atrair gente de locais tão distintos como Nova York, Colombo
(capital do Sri Lanka), Madri, Rio de Janeiro e Seydisfjordur, um pequeno
vilarejo na remota Islândia. Mas, apesar das diferenças, o "United for
global change" (Unidos por uma mudança global) promete ganhar o mundo e
levar às ruas neste sábado manifestantes em pelo menos 952 cidades de 85 países
para pedir o que chamam de "a devolução do poder ao povo" - numa
mobilização internacional que, nos últimos anos, só teve um precedente: quando,
em 2003, milhares foram às ruas em 800 cidades protestar contra a Guerra do
Iraque.
Intelectuais
como o escritor iraniano Salman Rushdie e o romancista americano Michael
Cunningham já anunciaram sua adesão à onda de protestos. Articulado pelas redes
sociais, o movimento ganhou contornos ainda em maio, na Espanha, quando
milhares de pessoas ocuparam as praças do país em repúdio à crise econômica,
ganhando o apelido de "indignados". Com a convocação feita - pelo
grupo Democracia Real Já (DRY, na sigla em espanhol) - indignados dos quatro
cantos do planeta juntaram-se a uma página no Facebook, além de acompanhar no
Twitter a articulação para transformar o 15 de outubro num dia de repúdio. Sem
líderes ou estrutura definida, assim como os movimentos populares da Primavera Árabe
e do Ocupe Wall Street, em Nova York.
Segundo
Jon Aguirre, porta-voz do grupo espanhol DRY, os protestos são contra os quatro
poderes. O financeiro, incluindo bancos, paraísos fiscais e agências de risco;
o político, com dirigentes distantes do povo; o militar, entre Exércitos locais
e a Otan; e a mídia, com seus grandes grupos e censores da internet.
-
Esses poderes atuam em benefício de poucos, ignorando a vontade da maioria, sem
se importar com os custos humanos ou ecológicos que temos de pagar. Temos de pôr
fim a esta situação intolerável - disse Aguirre. - Unidos em uma só voz,
faremos com que políticos e as elites financeiras que lhes servem saibam que
agora somos nós que decidiremos o futuro.
Na
Espanha, até o príncipe Felipe foi convidado a entrar no movimento, apelidado
de 15-O. Apesar de motivado, em grande parte, pela crise financeira mundial, a
falta de representação política também é um dos pontos-chaves dos indignados,
que não se identificam com o governo de seus respectivos países.
Em
Londres, a polícia britânica está mobilizada para acompanhar a concentração, em
frente à Catedral de St. Paul, de ao menos 15 mil pessoas que prometem marchar
e acampar junto à bolsa de valores, na Praça Paternoster, no centro financeiro
da capital.
-
O policiamento adequado está sendo preparado - limitou-se a informar um
porta-voz da Scotland Yard.
Aplicativo
de celular alerta sobre prisões
Munidos
de ideologia e indignação, os ativistas não se intimidam.
-
A ideia é ficar o máximo de tempo possível para conseguir mudanças
substanciais. Ninguém disse que será fácil - avaliou Spyro Van Leemnen, de 28
anos, ao "Guardian".
No
Brasil, estão programadas manifestações em Rio de Janeiro, São Paulo e várias
outras cidades. Os protestos também mobilizam a polícia da França, que sedia
neste sábado um encontro dos ministros das Finanças e presidentes de bancos
centrais do G-20, o grupo dos 20 países mais desenvolvidos do mundo. Ontem,
numa manifestação inusitada, um ativista da ONG denominada Robin Wood fez um
protesto solitário - e seminu - em frente à antiga Bolsa de Paris.
Apesar
do caráter pacífico das manifestações, precavidos, os ativistas cibernéticos
difundiram, ainda, aplicativos de celular para alertar os companheiros em caso
de detenções. Desenvolvido por um americano o "I'm getting arrested!"
(Estou sendo preso!) é instalado gratuitamente em smartphones e configurado
para enviar mensagens de alerta a um ou vários números de contato. Caso o dono
do aparelho seja detido pela polícia, basta apertar um botão para avisar a
todos os amigos e aos pais. Ou ao advogado.
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