Paulo
Moreira Leite – Revista Época
Em
sua edição que se encontra nas bancas a revista Economist, uma espécie
de leitura obrigatória da elite mundial, publica um artigo que serve como
advertência aos leitores que imaginam ser possível aplicar a tática do
avestruz — aquele costume de enfiar a cabeça na areia para não tomar
conhecimento dos problemas…
No
texto, a Economist lembra que a crise dos países desenvolvidos é muito grave e
séria. Também reconhece que os protestos de Wall Street e dezenas de países
europeus tocam em problemas de verdade, que exigem respostas eficazes. A
revista argumenta que seria um erro comparar os protestos de hoje com
manifestações radicalizadas do passado, como aconteceu em Seattle, em 1999,
cenário de um grande confronto de entidades sindicais e ONGs contra a
Organização Mundial do Comércio.
Pelo
texto da revista, pode-se concluir que, embora seja possível encontrar
muitas semelhanças com este e outros episódios, a principal diferença se encontra
numa realidade objetiva: o desemprego, a falta de crédito, a vida cada vez mais
cara. A diferença é simples, poderíamos acrescentar. Nos protestos anteriores,
as questões ideológicas tinham um peso determinante. Protestava-se contra a
globalização. Denunciava-se os prejuízos que o livre comercio iria produzir nos
países desenvolvidos. Mas falava-se de risco, de ameaça, de perigo futuro. Em
2001, os protestos falam da realidade presente.
Se
o capitalismo sempre foi um regime desigual e excludente, permitindo que o
Premio Nobel Joseph Stiglitz construísse a formula panfletária mas eficaz
segundo a qual vive-se num mundo onde 99% trabalham para que 1% enriqueça, que
tornou-se o slogan favorito de Wall Street, em 2010 e 2011 essa realidade
tornou-se especialmente nociva e insuportável.
A
desigualdade atingiu um patamar indecente mesmo em países habituados a
pensar sua vida social com padrões aceitáveis para a maioria. Não é só uma
questão moral nem de visão de mundo. Muita gente é a favor da desigualdade — em
especial, quando se encontra no lado agradável da equação. Mas chegou-se a um
ponto em que ela prejudica a economia, atrapalha o crescimento, com concordam
economistas de correntes muito diferentes.
Como
lembra a revista, o desemprego atinge mais de 40% dos jovens da Espanha, 17%
dos norte-americanos, e, na média, mais de 20% em todos os países da Europa,
menos Alemanha, Holanda e Austria. Examinando os adultos, fala de salários
decrescentes. Quando chega nos idosos, mostra que na Inglaterra, por exemplo, a
inflação anual já passou de 5% mas as poupança rendem 1,5%.
Neste
ambiente, a Economist se afasta do coro de economistas mais obtusos,
adeptos de uma política de austeridade para, em nome da pureza do mercado,
promover uma regressão histórica capaz de tornar a mão-de-obra européia tão
atraente como a chinesa ou peruana.
Sem
abandonar seus pontos-de-vista conservadores, a revista afirma que é hora de
crescer e colocar estímulos na economia. Segue favorável a suas idéias
anteriores, como elevar o piso para o inicio das aposentadorias e reduzir
outros
benefícios do Estado de Bem-Estar social, mas admite que isso pode ser
negociado para um segundo momento. Agora, diz ela, o importante é crescer.
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