“Coisas
da vida” por @LeideFranco*
Nessa
cidade, noite de sexta dentro de novembro
Querido
Você,
Essa
é uma carta sem conclusão. Como bem você sabe, teve início em outra primavera
como essa. Era um rabisco que se vivificou, tornou poesia alegre, fez revolução
com discurso simples e depois caiu morto na inanição das linhas tortas dos
sentimentos. Não. Calma. Espere! Na verdade estou iludindo você, Você e o meu
caro leitor também, porque lembrando melhor, não é correto escrever carta sem
fim, portanto não morreu.
Como
toda carta, essa tem um destinatário, deveria ser só para você, Você, mas
resolvi deixar sem cola, aberta. É para Você que me faz sentir como aquele ladrão
de sobras inúteis, ou como aquele que rouba somente pelo bel-prazer de levar
nos braços coisas proibidas. É para você, Você. Você que olha dentro dos meus
olhos escuros e não sabe expressar o mínimo sequer do muito que quer dizer. Você
monossilábico. Você esse avesso da prolixidade. Você que cala enquanto as
palavras tentam explodir. Você que arranca confissões dos meus lábios e joga na
minha cara limpa o tamanho da minha incompetência na simples missão de fingir que
você sem menos, com mais deixou de existir.
Essa
carta inconclusiva é para Você que aponta os restos que ficaram, digo as
sobras, ou melhor, aquilo que não se gastou de todo o junto que fomos e faz com
que eu enxergue esse mal acabado como se fosse uma cicatriz marcando o lado
direito do meu rosto. Esse corte insarável, que escorre saudade por dentro, que
sangra e não estanca. Ferida inoperável. É para Você que invade a minha consciência
imbecil, insana e monumentalmente vazia de outra coisa que não seja Você.
Corro
sem sair do lugar por entrelinhas para chegar ao fim de tudo. Inútil.
Eu
cárcere privada. Eu tudo e nada. Nada mais que introdução, desenvolvimento sem
conclusão. Eu nada e tudo. Tudo metade desse inteiro. Eu inércia. Estátua de
carne e osso. Eu incapaz.
Incompleta,
termino sem findar. Preciso encerrar, mas como se só termina quando chega ao
fim? É isso que me acaba...
@Leide
Franco*
Comunicadora
com pretensões literárias;
Um
pouco de filosofia e reflexões cotidianas;
Um
muito de MPB
E
quase nada do que ainda quero ser.
Escreve
todas as segundas-feiras.
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