Na
última sexta (23), a Lei nº 8.313 /91, conhecida como Lei Rouanet, completou 20
anos de existência. Em duas décadas, por meio de renúncia fiscal, o Ministério
da Cultura apoiou 31.125 projetos, investindo R$ 9,1 bilhões (dados até
22/12/11). Neste período, ao mesmo tempo em que aprimorou a lei – com diversas
instruções normativas – o MinC também buscou propor uma nova legislação, após
amplo debate com a sociedade.
Fonte:
Adnews
O
projeto de lei do Procultura (PL 6.722/10) encontra-se na Câmara dos Deputados,
na Comissão de Finanças e Tributação. A expectativa é que seja aprovado no
próximo ano. “A cultura se desenvolveu tanto que já não cabe na lei atual, em
dimensão e em diversidade”, diz Henilton Menezes, secretário de Fomento e
Incentivo à Cultura do MinC.
Concentração:
Sudeste e Cênicas
Segundo
ele, o modo como a lei atual foi desenhado acabou por concentrar recursos em
segmentos culturais – naqueles cuja renúncia chega a 100% – e em regiões que
são pólos econômicos, sobretudo o eixo Rio-São Paulo, que detém a maior parte
do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. “A nova lei tem de buscar a correção
destas distorções”, avalia Menezes.
No
ano passado, por exemplo, dos R$ 1,16 bilhão captado, 77% ficaram no Sudeste,
enquanto o Norte do país ficou com apenas 2,3%. Em 20 anos, 67,3% dos projetos
que conseguiram captar recursos da lei tiveram origem nesta região. Assim como
houve concentração em uma das regiões brasileiras, o mesmo ocorreu nos segmentos
culturais. Em 20 anos, as Artes Cênicas foram as que mais tiveram projetos
(6.704) com captação de recursos, enquanto a área de Artes Visuais foi a com
menor quantidade (2.324).
Menezes
explica que a lei atual continuará sendo aperfeiçoada – em janeiro o MinC deve
publicar nova IN com algumas mudanças – até o Procultura entrar em vigor.
Depois de a nova lei ser sancionada, o MinC tem 180 dias para regulamentá-la.
“Aperfeiçoamos uma, enquanto paralelamente discutimos a outra”, diz. Na sua
avaliação, a transição entre uma e outra lei deverá levar entre três e cinco
anos, em razão da quantidade de projetos em execução, cerca de 12 mil.
Única
bala
Quando
a lei foi criada, em 1991, o Ministério da Cultura havia sido extinto e se
transformado em uma secretaria – assim como outras instituições. O investimento
em cultura, por meio de renúncia fiscal, era praticamente a única política de
Estado para a área. No primeiro ano da existência da lei foram apresentados 32
projetos culturais e 11 autorizados a captar recursos. Não houve captação de
recursos pelos projetos em 1992. No ano seguinte, em 1993, conseguiram captar
recursos apenas dois projetos culturais, no valor total de R$ 21.212,78.
Com
o governo Lula, a partir de 2003, e a ampliação do conceito de cultura –
considerada sob três dimensões (cidadã, simbólica e econômica), houve um boom
de investimento no setor, pois o espectro das áreas passíveis de receberem
investimento com renúncia fiscal aumentou. No primeiro ano do governo Lula, por
exemplo, foram captados R$ 430,8 milhões. No ano passado, o volume chegou a R$
1,16 bilhão.
Procultura:
melhor distribuição
Menezes
diz que há um sentimento, errado, de que a lei deveria atender apenas aos
pequenos – o que não está escrito em seus objetivos. “A lei é para todos, o que
deveria haver é uma pontuação de que ganhasse mais renúncia fiscal aquele que
desse maior retorno à sociedade”, avalia.
Segundo
ele, a proposta do Procultura é que, para diminuir as distorções atuais, o
percentual de renúncia não seja por segmento cultural e, sim, por um sistema de
pontuação, cujos critérios poderiam ser gratuidade, realização das ações em
vários estados (e não apenas no estado de origem do recurso), promoção de
formação continuada, possibilidade de troca de experiências e outros critérios
que promovam retorno a todos os brasileiros. Ou seja, quanto maior o impacto no
meio cultural, maior será o incentivo oferecido pelo governo.
Desde
modo, conseguiria a renúncia de 100% aqueles que tivessem uma pontuação alta.
Assim, quanto menos pontos, menor também seria a renúncia – independente do
segmento cultural. Com isso, segundo Menezes, não só haveria uma melhor
distribuição por segmentos e regiões, mas também uma possibilidade de
apresentação de projetos que irão ao encontro da demanda da sociedade
brasileira.
Ele
cita como exemplo um espetáculo, que pode ser levado a regiões de difícil
acesso, que tenha tradução em libras (a linguagem dos sinais) ou
audiodescrição, que culmine com debates em escolas. Ou seja, que não fique
restrito ao circuito corriqueiro de uma produção cultural.
Os
critérios de pontuação estão sendo discutidos no Congresso Nacional – há
aqueles que acreditam que devam estar na lei e outros, que devem ser
normatizados pelo MinC.
Reforço
do Fundo
Outra
mudança proposta com o Procultura é que um percentual da renúncia fiscal
componha o Fundo Nacional da Cultura (FNC), de modo que o Ministério da Cultura
pudesse então investir anualmente em projetos ligados às prioridades da
política cultural. Em 2011, por exemplo, o FNC – sem este recurso – não
ultrapassou os R$ 300 milhões, enquanto a Lei Rouanet investiu R$ 1,35 bilhão.
Menezes
explica que, teoricamente, quando a lei foi criada, o FNC atenderia aos
projetos que não conseguissem ser contemplados pela renúncia fiscal. No ano
passado, o que foi captado pelo incentivo fiscal atendeu apenas 24,61% de toda
a demanda brasileira por esses incentivos, que atingiu o montante de R$ 4,7
bilhões. Nesse mesmo ano, o MinC recebeu 10.256 de ações em busca de recursos,
vindo de todos os estados brasileiros.
O
secretário lembra ainda que, só ano passado, a renúncia fiscal brasileira somou
R$ 77 bilhões e apenas R$ 1,16 bilhão foi para a cultura. Ele acrescenta,
ainda, que a Lei Rouanet é o mais transparente mecanismo de incentivo fiscal do
Brasil.
Todos
os projetos são públicos, o processo de análise tem participação ativa da
sociedade, o acompanhamento é feito pelo MinC durante a realização das ações e
a prestação de contas é obrigatória para aqueles que recebem o incentivo. Além
disso, todos os números estão à disposição de qualquer brasileiro, em qualquer
lugar, pois estão na página eletrônica do ministério, para consulta pública.
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