Um
relatório baseado em 10 anos de investigações será divulgado em janeiro pela
Universidade do Sul da Califórnia, unidade de Annenberg, e antecipa que além do
The New York Times, The Washington Post, The Wall Street Journal e USA Today,
nos Estados Unidos sobreviverão apenas os jornais locais que decidirem mudar
sua estratégia de negócios.
Por
Carlos Castilho, no Observatório da Imprensa
O
diretor do Center for the Digital Future (Centro para o Futuro Digital),
Jeffrey Cole, adiantou as linhas gerais do estudo, admitiu que outras previsões
feitas antes sobre o fim dos jornais impressos já falharam anteriormente, mas salientou
que o desfecho é inevitável. “Pode haver variação de meses, mas não há dúvida
de que estamos diante do fim de uma era”, disse.
A
Escola de Comunicação e Jornalismo da USC/Annenberg é um dos três mais
respeitados centros de estudo e pesquisa sobre jornalismo nos Estados Unidos.
Embora o documento tenha atraído mais atenção pelo fato de marcar uma data para
a agonia do jornal impresso como um negócio lucrativo, ele põe mais ênfase numa
série de perguntas ainda sem respostas.
A
grande questão levantada pelo documento se refere às mudanças que a expansão
acelerada da tecnologia digital está provocando nas nossas vidas. Cole afirma
na página web do relatório que “os Estados Unidos estão às vésperas de uma
mudança radical" e lança a pergunta: “Até que ponto estamos preparados e
dispostos a pagar o preço que a tecnologia está cobrando em nossas vidas?”
O
informe “Is America at a digital turning point?” destaca mais de 100 dilemas a
serem enfrentados pelos norte-americanos, destacando entre eles:
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a questão da credibilidade online,
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a avalancha informativa,
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a obsolescência dos desktops e a sua substituição pelos tablets,
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a implantação do trabalho contínuo (24 horas, sete dias da semana),
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o fim do hábito de ler jornais matutinos,
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a perda da privacidade individual,
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a incógnita da política via internet,
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a mudança dos hábitos de compra de bens de consumo.
As
questões levantadas pelo documento já foram tratadas em vários outros estudos
de outras universidades e centros de pesquisa tanto dos Estados Unidos com da
Europa e do Japão. Mas o que ele destaca é a constatação de que o principal
dilema deste momento de transição não é a tecnologia, mas sim os valores e
comportamentos que ela altera.
A
mídia convencional e os grandes portais da Web ainda estão fascinados pelos
gadgets eletrônicos e pelos softwares capazes de automatizar processos e
ampliar a capacidade de processamento de informações. São raros os estudos
sobre como estas mudanças já impactam o nosso quotidiano e vão transformá-lo
ainda mais no futuro próximo.
Em
pouca coisa se avançou nesse caminho, mas apesar de estarmos apenas
engatinhando na avaliação das mudanças nos comportamentos e valores da era
digital, já é possível antever que será um processo extremamente complexo porque:
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a avalancha informativa multiplicou o número de variáveis a serem consideradas
em qualquer estudo,
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a diversificação e segmentação de conhecimentos viabilizaram a investigação de
nichos sociais, econômicos, políticos e culturais em nossa sociedade;
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a estatística e a probabilidade ganham espaço como novos parâmetros para
certificação de credibilidade;
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surge uma nova relação entre o individual e o coletivo;
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a hierarquia perde importância em favor da heterarquia;
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e as afirmações absolutas cedem terreno para a abordagem complexa dos fenômenos
e processos sociais.
Nenhum
dos itens mencionados acima pode ser considerado absoluto e irreversível. Se há
uma coisa que a era digital está mostrando de forma quase brutal, esta é a de
que tudo muda com uma rapidez perturbadora. Conviver com a incerteza e com a
insegurança parece ser o nosso grande desafio daqui por diante.
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