CARTAS
DE COTOVELO (07) 23/01/2011
Carlos
Roberto de Miranda Gomes, advogado e escritor
Há
uma diferença fundamental entre a casa de veraneio e a casa da cidade. Naquela
reina a informalidade em todos os sentidos. As visitas são recebidas num clima
de descontração, numa simplicidade artesanal e rudimentar, que inclui pés
descalços.
A
cabeça, na casa de praia é descompromissada com a realidade da cidade grande,
pois toda a leitura feita é encarada com maior reflexão e assimilada com uma
seriedade meditativa.
Ao
reverso disso, a casa da cidade é extremamente formal – a cigarra incomoda
constantemente e o telefone é constante, além do fato de ocorrência de pedintes
sem obediência, sequer, ao horário comercial.
As
notícias não têm o sabor que sentimos na praia, até porque estamos presentes
aos fatos divulgados, pois participamos do clima realístico do cotidiano, onde
a vida tem um valor relativizado.
A
brisa, possivelmente, seja um diferencial mais acentuado, e na praia se nos
permite, quando o espírito pede e o corpo reclama, um banho de mar
reconfortante, tirando as mazelas do dia.
Pela
noite, igualmente, há um clima diferente – a penumbra nos permite mirar o céu
com mais nitidez e o recolhimento se faz mais cedo, para um sono bem mais
restaurador.
Podemos
dizer que a praia nos sugere um exílio voluntário, gostoso, que faz bater o
coração na hora de regressar.
Acho
que os brasileiros não aprenderam a valorizar essa regalia que nos é permitida
e isso se torna mais evidente quando recebemos parentes e amigos do além-mar.
Até
mesmo os velhos costumes de recorrer ao rádio e deslizar o ponteiro pelas
inúmeras emissoras retomam o nosso convívio e torna prazeroso ouvir músicas,
nos remetendo a um tempo passado, não àquele que já simplesmente já passou, mas
o que ficou indelével no presente, ainda que albergue alguma coisa indesejável.
Diferente
do que jocosamente alguns afirmam, a permanente invocação do tempo pretérito,
nos remete às ferramentas de reciclagem de atitudes e inspiração para as coisas
futuras.
Cheguei
mesmo a recordar um filme italiano, com o ator menino Gino Leurini, chamado de
“Amor de Outono”, todo passado em um veraneio na Itália, onde ele conhece o
amor pela primeira vez. Esse filme eu assisti quando solteiro (há quase 50
anos), no Cinema Rex e me empolgava quando o filme terminava, pois as pessoas
comentavam que eu então tinha traços do ator, fazendo-me repetir presença em
outras sessões – coisas de menino vaidoso – mais que era bom isso não se
discute.
Já
estou convivendo com a melancolia, pois começa a minha última semana de
veraneio, mercê da inevitável realidade da vida, me convocando para novas
missões.
Aguardem-me
os companheiros da ALEJURN, IHGRN, UBERN, INRG, AML, FINSC e Confraria da
Livraria Câmara Cascudo – eu estou voltando!
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