“COISAS
DA VIDA”
Por Leide Franco* (@LeideFranco)
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
Quando
nascemos, nos aventuramos. Nascer é um estúpido e inevitável risco que beira o
constante. Sabemos do início, do meio, mas do fim nada podemos prever. O
desenrolar da nossa história se desenvolve dentro de um labirinto. Às vezes não
enxergamos a saída, e em uma curva ou em outra, nos deparamos com coisas que
mal podemos acreditar. O problema é que não estaremos prontos nunca, nem para
viver e muito menos para morrer. Estamos em um eterno aprender.

Ela é daquele tipo doce ácido, indecifrável muitas vezes. Teresa já sofreu com
a possibilidade de ser amada, e embora triste, Teresa parece quase sempre
feliz. Bastam poucas coisas para colocar um sorriso bem largo em seu rosto. ‘Por
amores ela já chorou quem nem viúva, mas acabou’, só não esqueceu!
Teresa
um dia se viu perdida entre duas escolhas, entre seguir e ficar. Entre um
querer não querer. Ela queria, mas sua razão a fazia recuar. “Arrisco mais uma
vez ou fico assim como está?” Era muita pergunta em meia frase para nenhuma
resposta. É um estado agudo de indecisão. “Devo ir, ou continuo assim de braços
cruzados para o tempo que talvez passe, ou quem sabe, chegue?” Teresa só
encontra respostas que não servem mais. Viver era um descuido que se repetia
hora a hora. Teresa tinha medo, mas tinha esperança. Era feliz, mas se sentia
triste. Vivia cercada de bons amigos, mas era só.
Teresa
que era de carne, mas fingia ser feita de ferro já não sabia mais conjugar o
verbo saudade, tão constante nessa vida desconstruída, feita de fragmentos
compostos de nós enlaçados com fitas soltas. O tempo presente no passado fazia
com que ela já não suportasse guardar o vazio que é ter amado Raimundo. A
saudade dela era meio clariciana, tal como fome, que só passa depois que se
come a presença. Mas Teresa não queria mais presença nenhuma de Raimundo, nem
do passado e nem do futuro. Ela sofre do mal da lembrança que tem dificuldade
para esquecer. Até apaga, mas não deleta.
Teresa
anda pensando que Deus se esqueceu de por os ósculos e não consegue enxergá-la
aqui embaixo. Pobre Teresa... Tão confiante em si, mas tão descrente da vida
enquanto os outros.
A verdade é que ela não queria mais ser capaz. Só há um
coração cacto dentro dela. Está ferida e cansada como aquele bicho que foi à
luta, brigou como quem merece ganhar, mas não venceu. Ela vive se traindo com
suas memórias. Teresa está passando um filtro fino em sua vida e somente os
pedaços grandes vão ficando, como as tais lembranças inesquecíveis por serem
lembranças, que são alarme que dispara cada vez que João vai chegando. João que
ama Teresa que ama Raimundo que parece amar Maria, mas não ama ninguém. E assim
a vida de Teresa segue suspensa pelo fio da indiferença até que um sopro forte
a faça cair de pés no chão ou que a faça voar, mas enquanto isso, Teresa cuida
do que resta, pois é só o que resta fazer.
*Leide
Franco - Comunicadora com pretensões literárias;
Um
pouco de filosofia e reflexões cotidianas;
Um
muito de MPB
E
quase nada do que ainda quero ser.
Escreve
às segundas-feiras.
To vivendo um momento totalmente Tereza.
ResponderExcluirParece que escreveste a minha história de vida amorosa.
Parabéns querida!