Carlos
Roberto de Miranda Gomes*
O
Estado potiguar perdeu neste dia 3 de julho uma das suas maiores inteligências,
Professor e Advogado RAIMUNDO NONATO FERNANDES, natural de Pau dos Ferros,
nascido no dia 26 de janeiro de 1918.
Iniciou
seus estudos na sua terra natal e, enviado para Natal foi matriculado no
Colégio Pedro Segundo. Contudo, as dificuldades financeiras da família
obrigaram a tirá-lo para ingressar no tradicional Atheneu, considerada uma
verdadeira Academia de Letras, onde terminou os seus estudos secundários, tendo
entre os seus colegas de classe o pianista Oriano de Almeida.
Mudando-se
para a cidade do Recife no ano de 1938, ali se preparou para o curso superior,
conquistado na tradicional Faculdade de Direito do Recife, Turma 1944, abrigo
dos jovens idealistas da nossa terra como Nestor dos Santos Lima, Caio Pereira
de Souza, Hélio Barbosa de Oliveira, Rodolfo Pereira de Araújo, Paulo Gomes da
Costa, entre outros.
Embora
com fortes incursões no Direito Penal, em especial no Tribunal do Júri, teve a
sua consagração mesmo na área do Direito Público, especialmente no
Administrativo, cujos trabalhos se notabilizaram nas publicações em revistas
especializadas, notadamente na do Tribunal de Justiça do Estado e Revista de
Direito Administrativo.
Seu
vasto conhecimento do Direito e da Filosofia Jurídica permitiu que também
lecionasse as cadeiras de Introdução à Ciência do Direito, Ciência das
Finanças, Direito Constitucional e Teoria Geral do Estado, cátedra que exerceu
até 1981.
Registram
os historiadores a sua colaboração, ainda estudante, na defesa de presos
políticos em decorrência da Insurreição de 1935, ajudando os advogados Djalma
Aranha Marinho e ao lado de Hélio Galvão e Antônio Soares Filho, redigindo
pedidos de ‘habeas corpus’ para os insurretos.
Na
vida funcional foi Oficial de Gabinete da Interventoria do Estado no período de
1942 a 1943 – Rafael Fernandes, Assistente-Chefe do Serviço estadual de
Reeducação e Assistência Social, Adjunto de Promotor em Ceará-Mirim, Procurador
da LBA, eleito Procurador Judicial do Aéro Clube em 1948, Procurador contratado
da Prefeitura Municipal de Natal, Secretário de Negócios Internos e Jurídicos
da mesma Prefeitura, Procurador da Associação Norte-rio-grandense de Imprensa,
Membro e Presidente do Conselho Penitenciário do Estado, Procurador do Estado,
Consultor Geral do Estado em vários governos, como os de Dinarte Mariz, Aluízio
Alves, Monsenhor Walfredo Gurgel, Tarcísio Maia e José Agripino, o que comprova
a sua isenção política, sempre com um comportamento irreprochável.
A
propósito, em singela homenagem que lhe prestou o seu ex-aluno Ivan Maciel de
Andrade, em artigo publicado no jornal A Tribuna do Norte, assim testemunhou:
Acostumei-me a vê-lo, professor, sempre determinado a agir de forma criteriosa,
ética, com o máximo de dignidade. Sem qualquer arrogância. Foi assim que serviu
durante longos anos ao governo do Estado do Rio Grande do Norte no cargo de
Consultor-Geral e de Procurador. Talvez a discreta inflexibilidade de suas
atitudes tenha despertado incompreensões ou rejeições. Mas foi sempre o seu
jeito de ser. E nada poderia modificá-lo. Nem ameaças nem tentadoras ofertas.
Não sei se alguém teve o desplante de abordá-lo com propostas constrangedoras.
Não acredito. A sua imagem e o seu conceito certamente evitaram que esse tipo
de desrespeito ocorresse. A conduta das pessoas com o tempo cria uma blindagem
a essas tentativas: sabe-se bem o que esperar de uns e de outros.
Uma
breve incursão na carreira política o fez lograr eleição como Vereador à Câmara
Municipal de Natal. No entanto, dois meses após a posse renunciou e nunca mais
concorreu a qualquer cargo eletivo, por não ser do seu ideário e conflitar com
sua carreira de advogado.
Atuou
no jornalismo nos jornais A República, Diário de Natal e Rádio Poti, ao lado de
intelectuais consagrados como Eloy de Souza, Edgar Barbosa e Eider Furtado.
Por
todos esses predicados foi eleito imortal da nossa Academia Norte-Rio-Grandense
de Letras, em 30 de junho de 1976, ocupando a cadeira nº 39, cujo patrono foi o
poeta Damasceno Bezerra e agora também na novel Academia de Letras Jurídicas do
Rio Grande do Norte, ocupando a cadeira nº 16, em que é patrono o seu amigo
Miguel Seabra Fagundes.
Na
militância da advocacia, foi estagiário do causídico Hélio Galvão e também do
Doutor Otto de Britto Guerra, logo se destacando e ganhando fama, para a qual
dedicou mais de 60 anos de sua vida, com atuação notável, sendo o seu
pensamento jurídico acatado com a força de uma verdadeira norma de conduta,
sendo presença permanente nos templos da Justiça. Como advogado ocupou a vaga
de jurista no Tribunal Regional Eleitoral do nosso Estado no período 1972 a
1974
Na
Ordem dos Advogados do Rio Grande do Norte foi várias vezes Conselheiro e seu
Vice-Presidente. Foi o Primeiro Presidente do Tribunal de Ética, colaborador
incansável na elaboração das mais importantes leis do Estado, notadamente em
suas Constituições.
O
seu escritório de advocacia tornou-se um ponto de referência, desde o primeiro
na Av. Duque de Caxias, na velha Ribeira, como atualmente no da Rua Vigário
Bartolomeu, no 6º andar do Edifício 21 de Março, com a visão do Potengi e a
proteção do Padre João Maria, onde comparece para sua atividade profissional e
orientação dos seus aprendizes, dentre eles, alguns seus descendentes,
contabilizando uma atuação superior a 20 mil ações.
Todas
as autoridades públicas do Estado o consultavam durante toda a sua existência,
notabilizando-se pela participação efetiva na elaboração de leis importantes,
principalmente das reformas ou projetos das Constituições do Estado e da nossa
legislação básica.
Professor
Emérito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, homenageado pela
comunidade jurídica do estado em várias oportunidades, particularmente na que
ocorreu em 05 de outubro de 2006, por ocasião da Quinta Jurídica, levada a
efeito pelo IBDA local e Justiça Federal do nosso Estado, cujo tema foi ‘O
Estado Brasileiro na Época de Raimundo Nonato’ a cargo de eminentes figuras do
mundo jurídico da nossa terra, a teor do Acadêmico Diógenes da Cunha Lima,
Professor Eduardo Rabenhorst, Professor Honório de Medeiros e Jornalista Cassiano
Arruda Câmara. Também o homenagearam na ocasião os Juízes Janilson Siqueira e
Edílson Nobre Júnior. A então Consultora Geral do Estado, Dra. Tatiana Mendes
Cunha, em nome da Governadora Vilma de Faria entregou uma placa alusiva aos
seus 61 anos de atividade profissional.
Recebeu
a primeira outorga da “Medalha AMARO CAVALCANTI”, criada pela OAB/RN e
considerada a comenda maior da Instituição, concedida uma única vez em cada
administração, entregue em emocional solenidade durante a XX Conferência Nacional
dos Advogados, realizada em Natal, pelo seu colega de turma, Dr. José
Cavalcanti Neves, por deferência do Presidente da OAB/RN Dr. Paulo Eduardo
Pinheiro Teixeira.
Titular
da cadeira nº 16, cujo Patrono é o Eminente Miguel Seabra Fagundes.
Deixou
viúva a Senhora Bertha Ramalho Fernandes e órfãs quatro filhas Ana Virgínia,
Maria das Graças, Maria de Fátima e Ana Luíza, com seus genros e netos e
bisnetos. Adotou um filho, Sérgio Antônio, já falecido.
Sua
obra é muito vasta alcançando os campos da Literatura e do Direito, cuja
relação poderá ser conferida em duas obras básicas – Sociedade e Justiça, de
autoria de Eduardo Gosson e Academia Norte-Rio-Grandense de Letras Ontem, Hoje
e Sempre -70 anos rumo à luz – volume II, do jornalista José Soares Júnior.
Deixa
enorme lacuna e uma imensa saudade. Descanse em Paz, nobre Mestre.
*Membro Honorário Vitalício da OAB/RN
Membro da Academia de Letras Jurídicas do RGN,
escritor e ex-aluno.
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