Carlos Roberto de Miranda Gomes, advogado e escritor
A identidade de uma cidade se eterniza pelas figuras dos
seus habitantes. Cada partida vai desfigurando o seu cenário emocional.
Neste final de semana tomei conhecimento da viagem final
do Mestre Bandeira – ANTONIO JOSÉ BANDEIRA, canguleiro de fibra, habitante
permanente das cercanias da Ribeira e Rocas.
A sua arte de encadernador de livros foi exercida por
muitas décadas, com eficiência e dignidade. Dificilmente em uma boa biblioteca
não existam exemplares do seu ofício. Eu as tenho em dezenas, pois nossa
amizade datava dos anos 50, quando encadernava as minhas revistas em quadrinho,
que ainda conservo íntegras em minha biblioteca. Isso aconteceu quando ele
trabalhava no jornal católico “A ORDEM”, na Rua Dr. Barata. Fui levado pelas
mãos de papai, também seu freguês e suas encomendas se avolumavam, posto que a
clientela era imensa. Tenho certeza que Cascudo era um dos seus clientes, até
porque a Ribeira era o cenário da intelectualidade de Natal.
Coleções inteiras que ele recuperava ainda existem
espalhadas por aí, sempre com característica singular – papelão, costura, miolo
em pano com a gravação do título da obra. A sua prensa representava um
monumento que venceu o tempo e devia ser recolhido a um museu. Nosso último
encontro aconteceu na Livraria Poty – espantei-me da sua boa forma, o mesmo
homem, esguio e de braços fortes que conheci nos meus 10 anos. Era sempre um
homem que aparentava ser feliz. Foram 86 anos bem vividos.
A Ribeira guardará a sua memória e a cidade amanheceu mais
pobre.
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