Por @LeideFranco
Estamos
em uma sala confortável, bem iluminada. Ela não se veste de verde, como todos
dizem, mas de uma cor sem cor, cor luz, talvez. Olha no meu olho profundamente.
Fala pausado. Outras vezes cantarola baixinho uma música sem sentido,
desconhecida. Deve ser o dialeto do mundo que vivem as perseveranças – seus
antepassados. Quando ela não tem o que falar, assobia – assobia para sobreviver.
Lá
fora o mundo está um caos. Homens se matam a troco de quase nada: uma droga. As
pessoas não têm respeito umas pelas outras. Casamentos são destruídos em troca
de uma aventura: uma desventura. Sentimentos são plantados e depois arrancados
com gestos e palavras duros – muito mais com a falta das delicadezas. E a esperança
aqui, firme, sentada em minha frente, olhando na minha cara.
Desconcertada,
por estar de frente a uma figura tão rara, lanço, trêmula a primeira pergunta:
-
Quem é você?
Ela
para por um segundo, se solta, pensa um pouco e responde:
Sou
a fonte daquele que de repente espera... Aquela que fica na calçada enquanto
todos correm de um lado a outro em busca de finalizar mais um dia. Sou aquela
que olha os carros que buzinam carregando motoristas loucos pelas ruas sem
esperar o sinal fechado abrir. Sou aquela que voa para lá e para cá esperando
por alguém que me agarre e me leve consigo. Eu sou a ES-PE-RAN-ÇA.
Ser
a Esperança é ser aquela que pousa no ombro da mãe que dorme – não de sono, mas
de cansaço, depois de um dia sem nenhuma chance de anteceder um dia melhor. Sou
aquela que faz a ponte entre o velho e o novo. Sou aquela que vive para todos
os homens, sem distinção de cor, crença, situação social. Sou daqueles que não
têm ninguém na vida, mas me possuem, e isso é muito do tudo que eles não têm.
Sou
o fio que leva à felicidade. Sou o laço que desata fácil quando há sobrecarga
de impaciência, mas não sou dos inquietos. Nunca caí do céu. Sou daqueles que
se arriscam com fé em mim, mas que não se desesperam no primeiro contratempo.
Sou parente da sabedoria, da experiência, da competência e do agir. Não há como
ir a lugar algum sem eles - e sem a mim.
Não
estou sozinha no mundo. Impossível dar conta de tantos que precisam da
Esperança. Tenho duas filhas: a Indignação e a Coragem. A Indignação é
especialista em não aceitar as coisas como estão; a Coragem é doutora em
mudanças.
E
quem tem a mim, pode tardar, mas sempre alcança o armário alto que guarda seus
sonhos realizados. O segredo é separar-me do medo. Eu e o medo até andamos próximos
de vez em quando, mas juntos não nos damos bem. Um acaba tolhendo o outro.
Eu
sou a companheira dos homens vivos, dos que choram pela falta do pão, dos que
lamentam a fome do filho. Sou o choro da criança que nasce com promessas de
paz, união e vida. Enfim, sou o remédio para os que sofrem de doença
degenerativa e de aflição.
E
assim se encerra uma entrevista de pergunta única e respostas plurais.
Que
em 2013 a esperança te acompanhe!
Feliz Ano Novo!
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