Por
Leide Franco (@LeideFranco)
Posso
contar meus vícios nos dedos de uma das mãos e ainda sobram dedos, no entanto,
nenhum traz malefícios, quer dizer... Não há como saber o que vem matando sem
morrer um pouco de cada vez.
Está
diagnosticado. Tomar café depois das sete horas da noite me tira o sono e deixa
alucinações. Mas só depois das sete. Se eu tomar um gole sequer após esse
horário, mais tarde, ele cruelmente me impede de passar do estado de vigília
para o estado de sono: essa ressurreição.
Na
hora de dormir, entorpecida, eu deito e fico sonhando coisas sem nem precisar dormir
– isso é até tarde da madrugada. Da última vez sonhei acordada até três horas
da manhã. Nem quero saber o que Freud
diria sobre o assunto.
Quase
cataplexa, deliro de um lado e de outro até encontrar o jeito certo de descansar
por algumas eternas horas. Dormir é quase, necessariamente, morrer; é quase não
ser mais nada: uma vela apagada. Essa insustentável leveza do ser.
Como
diria Belchior, “a minha alucinação é suportar o dia-a-dia e meu delírio é a
experiência com coisas reais...”. Essas coisas reais são as principais fontes
da insônia na humanidade. Viver dói. A realidade é tóxica e quase sempre vicia.
Há outras patologias: tem gente com medo de dormir, aí já se caracteriza uma
psicose. Tem tratamento.
Uma
amiga me indicou tomar café descafeinado, e talvez seja até bom, assim como
chupar bala com papel. Café bom, em meu gosto, precisa ser,
imprescindivelmente, doce e forte, tipo como gente.
Esse
líquido negro é hoje, por opção, o meu principal distúrbio do sono, depois da
tristeza quando pernoita aqui. Para essa última, há uma desintoxicação diária com
doses homeopáticas de felicidade: uma colher das de sopa três vezes ao dia. Tem
dado certo.
É interessante. Café é uma contradição:
desperta e desperta demais - quando não poderia.
Muitas
coisas na vida são assim: fazem bem e mal. Concorda? O segredo está na dose que
ingerimos. Preciso dormir? Sim. Gosto de café? É pouco. Sou viciada. Mas não
posso continuar insistindo em algo que me faz mal à noite, embora que sonhar
acordada seja até bom. É aquele encontro com todas as pessoas que não existem
fora de mim, que só acontece na calada da noite, na reunião não marcada comigo
mesma.
Dormir traz saúde e é preciso
trair a morte todos os dias.
Pensando
nisso, troco a cafeína por um suco ou achocolatado gelado, e assim engano com
forças ocultas, meu cérebro, porque eu também não quero renunciar à liberdade
deliciosa de me enganar. Sim. Ninguém é melhor para nos enganar que nós mesmos.
Alguém dentro de mim mente e mente muito bem só para tentar me proteger, assim
como diz um poeta contemporâneo.
E
assim tem sido: estou trocando insônia por deitar e adormecer logo, sem esforço.
Vou procurar gostar de chá sem que isso me traga à lembrança a sensação de
estar doente. Até gosto do de canela. Lembrei. Mas só para depois das sete
horas da noite. Há um dia inteiro antes disso para os cafés doces e fortes.
Às
vezes, algumas renúncias podem ser boas. Podem ter gosto de fruta ou chocolate
ao leite, e geralmente um clichê é a melhor saída para apresentar um ponto de
vista, como esse. Então estamos aqui até às sete horas da noite ‘por todo café que
houver nessa vida e algum trocado para dar garantia. ’.
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