6.12.11
Postado por
Sávio Hackradt
OCCUPY WALL STREET
Um
por cento da população mundial possui 40% das riquezas do planeta. Eis como
vive, onde vive, o que faz e como gasta o seu dinheiro aquela parte da
humanidade contra a qual (e em nome dos 99% restantes) o movimento Occupy Wall
Street vem lutando.
Por
Federico Rampini*
“Mãe,
o que fazem todas essas pessoas no nosso avião?”. O filho de Jacqueline Siegel
não conseguia dar uma explicação a si mesmo na primeira vez que se encontrou na
fila de embarque (primeira classe, obviamente) com tantos desconhecidos, ele
que estava acostumado a viajar com o seu pai no jato particular da empresa.
Bem-vindos ao mundo do 1%.
Uma
categoria social que acabou ficando sob os holofotes da atenção pública graças
ao movimento Ocuppy Wall Street: aquele que se autodefine como “os 99%” e
denuncia os privilégios da oligarquia. Se você mora em Manhattan, isto é, no
coração do protesto, por meio de que sinais se pode perceber se você pertence
ao vituperado ou invejado 1%?
Eis
12 mandamentos que traçam a linha de demarcação na vida diária. É um teste
empírico, a prova da verdade que trai os verdadeiros privilegiados.
•
Primeiro: você se veste rigorosamente made in Italy (com excepção dos sapatos
Louboutin), comprando na Bergdorf Goodman da Quinta Avenida.
•
Segundo: janta no Masa (o japonês com menus sem preços), Per Se, Marea, Babbo,
e pelo menos uma vez por ano você se concede o personal chef com catering de
três estrelas.
•
Terceiro: mensalidade fixa da Metropolitan Opera, mais doação fiscalmente
dedutível.
•
Quarto: voa apenas na BusinessFirst, se o Gulfstream não estiver acessível.
•
Quinto: nunca anda de metrô, nem mesmo que esteja nevando.
•
Sexto: presença assídua em um spa-fitness, com massagista e personal trainer.
•
Sétimo: assina o Wall Street Journal.
•
Oitavo: férias de verão na Toscana, em Aspen para esquiar, fins-de-semana na
casa nos Hamptons.
•
Nono: seus filhos estudam em uma escola privada do tipo Waldorf (pedagogia
progressista, mas competitiva), mensalidade a partir dos 30 mil dólares por
ano.
•
Décimo: nada de conta corrente, mas sim um telefone direto com o serviço
personalizado Wealth Management de um grande banco.
•
Décimo primeiro: a mansão onde você mora deve ter porteiros uniformizados.
•
Décimo segundo: você gosta de cães de raça, mas é o dog sitter que os leva
todas as manhãs ao Central Park.
Essas
regras de vida do 1% mudam pouco se você estiver na China, país que
recém-cruzou o limiar de um milhão de milionários: foi na República Popular que
a Burberrys viu as suas vendas crescer em 34% em seis meses, que a Zegna
inaugurou a sua 70º loja, que a casa de leilões Christie’s vendeu por 4 milhões
de euros um par de pistolas da era Qing com cabo de ouro incrustado de pedras
preciosas.
Não
varia muito no Brasil, onde o poder de compra dos ricos é tão próspero que a
Louis Vuitton cobra um ágio de 100% em comparação com os mesmos produtos da sua
loja nos Champs-Elysées.
Estamos
falando de uma exígua minoria de extra-ricos? São os banqueiros de sempre,
magnatas da indústria, estrelas do espetáculo? Não apenas. Nos EUA, os
indivíduos com um patrimônio líquido de 1 a 5 milhões – é o limiar acima do
qual os gestores patrimoniais os classificam como “altos patrimônios” – são
26,7 milhões. Outros 2 milhões de norte-americanos têm um patrimônio entre 5 e
10 milhões líquidos. Um milhão de pessoas estão sentadas em um ninho de ovos de
ouro de 10 a 100 milhões. Por fim, 29 mil estão sentados em cima de US$ 100
milhões. Todos juntos fazem mais da metade da população italiana.
Se
quisermos ficar com a definição precisa do 1%, isto é, apenas três milhões de
norte-americanos, o limite de ingresso é medido com base na renda. Os dados do
Internal Revenue Service (a Receita Federal norte-americana) marcam a fronteira
exata: é preciso receber uma renda de, pelo menos, US$ 506 mil brutos anuais
(375 mil euros) para entrar no círculo dos três milhões de pessoas que são o 1%
da população norte-americana.
Em
nível global, para isolar o 1% que está no topo da pirâmide, é preciso voltar às
estatísticas sobre o patrimônio, por serem mais homogêneas. O Global Wealth
Report do Credit Suisse indica que eles controlam 38,5% da riqueza mundial, e
que os seus bens cresceram 29% em apenas um ano: é uma velocidade dupla com
relação ao crescimento da riqueza total do planeta.
Portanto,
o Occupy Wall Street denuncia um fenômeno real, aqueles que estão “lá em cima”
alçaram voo, distanciando-se cada vez mais da maioria da população. Um
fascinante estudo dos historiadores Peter Lindert e Jeffrey Williamson
demonstra que nunca na história passada o 1% teve uma quota tão grande da
riqueza nacional. Em 1774, quando ainda havia o colonialismo inglês e,
portanto, a aristocracia, o 1% dos privilegiados na Nova Inglaterra controlavam
apenas 9% do total. A nobreza da época vivia em condições menos distantes da
média, com relação às novas oligarquias do terceiro milénio.
Na
história norte-americana, a dilatação enorme das desigualdades tem uma data de
nascimento: 1982. Não por acaso, é o início da era de Ronald Reagan, marcada
por um sistemático ataque ao welfare state, ao poder dos sindicatos, juntamente
com políticas fiscais cada vez menos progressivas. É desde 1982 que o 1% se
separa do resto, sobe para a estratosfera, amplia as distâncias: no quarto de
século posterior, a sua quota da renda nacional mais do que dobrou, subindo
acima dos 20%. A parcela de riqueza sobe ainda mais, superando os 33%.
É
a trajetória que a última capa da revista The Nation mostra: “Wall Street
inventou a luta de classes”. Quando esse conceito já se havia tornado um tabu
no debate político norte-americano, os ricos se apropriaram dele, e o conflito
social sobre a distribuição dos recursos foi vencido por eles.
Mas
também há aqueles que convidam a compadecer-se deles. Robert Frank, no seu
livro The High-Beta Rich relata a história da família Siegel, aquela do filho
que não entende por que tem que subir no avião com desconhecidos. Depois de ter
feito a sua fortuna no setor imobiliário e ter construído “a Versalhes dos
Estados Unidos”, em Orlando, na Flórida (23 banheiros, uma garagem para 20
carros, duas salas de cinema), a família teve a sua mansão penhorada pelos
bancos quando o mercado entrou em colapso. “Os extra-ricos jamais sofreram uma
volatilidade tão exasperada da sua fortuna, ligada aos mercados financeiros”,
explica Frank.
Portanto,
o 1% é uma categoria em risco, de alta mobilidade. Nela se entra e dela se sai
com a porta giratória em alta velocidade. Por isso, em 2008, foi aprovado o
welfare dos banqueiros: US$ 600 bilhões apenas para salvar Wall Street.
*Fonte:
Diário.Info, a partir do original no jornal La Repubblica. Tradução de Moisés
Sbardelotto. (Portal Vermelho)
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