Amanda
Cieglinski
da Agência Brasil
Enquanto no Brasil o ano letivo tem 200 dias, com carga horária de 800 horas,
em alguns países da Europa, Ásia e até mesmo América Latina, a jornada chega a
1,2 mil horas anuais, como no México, ou 1,1 mil horas, como na Argentina. É o
que apontou o professor da Universidade Católica do Chile, Sérgio Martinic,
durante o Congresso Internacional Educação: uma Agenda Urgente, que discutiu o
assunto. Esta semana, o ministro da Educação, Fernando Haddad, anunciou que o governo
pretende ampliar o tempo de permanência do aluno da escola, mas ainda estuda se
isso será feito pelo aumento do número de horas diárias ou dos dias letivos.
Martinic
ressaltou, entretanto, que o tempo de permanência na escola não é determinante
na melhoria da aprendizagem. O sucesso escolar depende também de outros
fatores, como a infraestrutura e insumos disponíveis, a formação do professor e
as tarefas desenvolvidas. Segundo ele, a Finlândia, que tem jornada diária de
cinco horas e poucos dias letivos, tem resultados superiores nas avaliações
educacionais aos da Espanha ,que tem uma carga diária maior.
“Não
se demonstra efetivamente que há uma relação estrita entre qualidade pedagógica
e o tempo comprometido. O esforço tem que ser para que o tempo extra seja
motivante e comprometa o aluno”, disse Martinic. Ele chamou a atenção também
para o fato de que o “tempo oficial” não é integralmente o “tempo da
aprendizagem”, já que parte dele é desperdiçado, seja por problemas de
disciplina em sala de aula, faltas de alunos e professores, greves ou mesmo
eventos climáticos.
Os
especialistas que participaram do debate defenderam que é necessária a
ampliação da jornada no Brasil. Mas os gestores das redes de ensino lembraram
que há dificuldades para cumprir a tarefa, inclusive físicas. Em muitas
escolas, há oferta de dois turnos diários – matutino e vespertino –, o que
dificulta a ampliação do tempo de permanência do aluno
“A
ampliação passa por resoluções de problemas que não são simples, como a
merenda, o transporte escolar, o espaço físico, a questão de mais recursos humanos
qualificados e também financeiros. A escola hoje tem novas demandas, mas está
com o mesmo tempo do passado. Ouço constantemente os professores reclamarem que
falta tempo para cumprir os conteúdos”, disse a professora Yvelise Arco-Verde,
professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e ex-secretária de Educação
daquele estado.
O
ex-prefeito de Apucarana (PR), Valter Pergorer, relatou a experiência do
município. A cidade, segundo ele, conseguiu implantar educação em tempo
integral para 100% da rede pública. A ampliação foi possível porque a
prefeitura contou com a parceria de organizações da sociedade civil, como
clubes, igrejas e grupos culturais, para que fossem oferecidas atividades aos
alunos da rede no turno contrário ao das aulas.
“Não
dá para ficar esperando tudo estar pronto para começar. É preciso começar do
jeito que a gente está [com a infraestrutura disponível]”, assinalou Pergorer.
“O prefeito tem que ter vontade política e combinar com o povo, nós fizemos um
pacto pela educação com a comunidade. E o custo é relativo, é uma questão de
prioridade. O buraco na rua incomoda, mas incomoda mais a perspectiva da
criança virar um marginal lá na frente.”
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