Em
20 anos, a Suíça vai sair da era nuclear, pelo menos vai abandonar a atual
tecnologia, deixa uma porta aberta para tecnologias futuras, como confirmou a
comissão de energia do Senado suíço, nesta terça (30). Fica a missão de
enterrar dezenas de milhares de toneladas de lixo radioativo das usinas
nucleares. Na Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL), testa-se uma
estocagem a barreiras múltiplas em que o lixo poderia ficar séculos, até
tornar-se inofensivo.
Portal
Vermelho com informações de Marc-Andre Miserez, swissinfo.ch
Atualmente,
o lixo nuclear das centrais suíças esfriam muito lentamente em imensas piscinas
nas próprias usinas e no depósito intermediário de Würenlingen, cantão de Argóvia
(norte). Desde 2006 e a moratória votada pelo Parlamento para a construção de
novas usinas, a Suíça deixou de enviar o lixo radioativo ao gigante francês
Areva, para reciclagem na usina de La Hague.
A
reciclagem existe: A Areva afirma que 96% das barras usadas das usinas
nucleares francesas voltam a ser enriquecidas para reutilização como combustível.
Os ecologistas do Greenpeace desmentem e dizem que esses dados se explicam
pelas exportações ilegais que vão enferrujar em depósitos na Sibéria.
É
verdade, quando se trata de nuclear, nada é simples nem totalmente
transparente.
Alessio
Ferrari é um cientista e não um político. Pesquisador pós-doutorando no laboratório
de mecânica dos solos (LMS) da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL),
ele trabalha na maneira em que a rocha poderia abrigar o lixo radiativo sem que
jamais ele entre em contato com o meio ambiente nem com os lençóis freáticos. É
a opção de depósito em camadas geológicas profundas, escolhida pela Suíça e por
seus vizinhos. Se na superfície, o processo parece marcar o passo, nos laboratórios
a pesquisa avança rapidamente.
“Há
uma forte aceleração, no plano europeu, nos últimos cinco a dez anos”, diz
Alessio Ferrari. “Os cientistas dispõem agora de melhores laboratórios,
melhores resultados, uma compreensão de como os solos se comportam quando as
condições mudam. O poder público também estimula a pesquisa porque se dão conta
que é preciso, enfim, encontra uma solução”.
As
quatro barreiras
A
parte do lixo que não pode mais ser reciclada é vitrificada, ou seja, derramada
em uma matriz de vidro reputada como quimicamente estável. Mas o lixo ainda é
ativo e, portanto, produz calor: até 150° durante séculos para o esfriamento
total depois de 10 mil a 100 mil anos. Nada garante que radioatividade não vaze
do envelope vitrificado.
Então
essa primeira barreira não é suficiente. A segunda é um container de aço.
Apesar de ter várias dezenas de centímetros de espessura, o container também não
é uma garantia absoluta e milenar contra os vazamentos radioativos.
Isso
sem contar as possíveis agressões exteriores, sobretudo da água que poderia
corroer o metal. Em princípio, a rocha é pouco permeável aos líquidos, mas para
não ameaçar os tataranetos, os cientistas preveem uma terceira barreira antes
das rochas.
“Não
podemos simplesmente colocar esses containers no fundo de um túnel”, explica
Alessio Ferrari. “É preciso um material tampão entre os containers e a rocha. O
que testamos atualmente é a bentonita, uma espécie de argila que tem a
propriedade muito interessante de poder absorver quatro a cinco vezes seu
volume inicial de líquido. Quando ela fica saturada, se torna impermeável”.
Centro
de competência
No
campus da EFPL, o laboratório testa portanto a resistência da bentonita e seu
comportamento em situações de calor, umidade e pressão dos containers que pesarão
entre 8 e 26 toneladas. Um outra parte do trabalho é feita nas encostas do
Grimsel e do Monte Terri, na região do Jura (oeste), em um laboratório gerido
por um consórcio internacional de órgãos públicos e de institutos acadêmicos,
sob o controle da Secretaria Federal de Topologia.
Isso
não quer dizer que essa rede de túneis a 300 metros de profundidade seja o
futuro depósito de lixo nuclear da Suíça. Atualmente, a estocagem de lixo
radioativo é inclusive proibida. “As rochas que encontramos aqui existem quase
por toda parte na Suíça”, explica Alessio Ferrari. O estudo do comportamento da
rocha nas mesmas condições exigidas para uma estocagem de material radioativo
faz parte de seu mandato.
Os
trabalhos do laboratório LMS são em parte financiados pela NAGRA, cooperativa
nacional pela estocagem de lixo radioativo, que considera o laboratório da EPFL
como referência nessa área.
O
século dos séculos
Mas
como ter certeza de que o que é testado hoje será válido pelo que aparece como
meia eternidade?
Alessio
Ferrari está consciente do problema: “A escala temporal de um laboratório é
limitada no máximo a alguns anos. Para a rocha, 10 mil anos não é nada na
escala de tempo geológica e vamos escolher rochas muito estáveis. Para a
bentonita, devemos extrapolar através de um modelo matemático”.
É
melhor, se possível, não se enganar porque o modelo suíço de depósito de lixo
nuclear prevê que, uma vez fechado, não se mexa mais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário