Artigo
que publiquei na Revista Palumbo*
Não
pretendo com esse artigo emitir opinião definitiva sobre o papel da esquerda no
Rio Grande do Norte. Quero, sim, estimular o debate político sobre o fracasso
da esquerda nas duas últimas eleições – prefeituras em 2008 e governo do estado
em 2010 – no Rio Grande do Norte.
E,
começo afirmando que a mim parece que o mais grave erro da esquerda do Rio
Grande do Norte é não ter verdadeiramente um projeto para o estado e girar
apenas, invariável e cansativamente, em torno de personalidades e em função de
mandatos – têm sido sempre, pois, meros projetos individuais de poder.
E
isso, apesar de o estado ter sido governado recentemente por um partido tido
como de esquerda, o Partido Socialista Brasileiro (PSB), que por oito anos
esteve à frente do comando administrativo sob a liderança de Wilma de Faria e
do seu sucessor iberê Ferreira de Souza.
Mas,
o poder de fogo da esquerda norte-rio-grandense não se limitou ao PSB: o
Partido dos Trabalhadores (PT), o mesmo do presidente Lula, tinha no RN uma
deputada federal, Fátima Bezerra e um deputado estadual, Fernando Mineiro;
correndo por fora, com um vereador em Natal, tinha o PCdoB e ainda o PDT, com
um deputado estadual e uma vereadora em Natal.
Cito
estes exemplos acima, imaginando que, ao definir um campo ideológico no Rio
Grande do Norte, é razoável colocar nesse circulo, obrigatoriamente, o PSB, PT,
PCdoB e PDT. Dito isto, vamos à exemplificação de como tem faltado à esquerda
do Rio Grande do Norte um projeto para o estado, ao mesmo tempo em que sobram
investidas em projetos individuais de poder.
O
PSB no Rio Grande é um feudo “wilmista” – o sufixo ista, com conotação
personalista, de donos de legendas, é uma tradição na política do estado. No
governo, Wilma olhou apenas para si e cometeu os mesmos pecados que todos os
governos anteriores cometeram nas relações políticas dentro e fora do governo.
O
Partido dos Trabalhadores (PT), mesmo sendo o partido do presidente Lula, não
foi capaz de avançar no estado. Perdeu espaços na Câmara Municipal de Natal e o
seu deputado estadual, Fernando Mineiro, se reelegeu entre os últimos, com votação
pequena. A exceção no PT tem sido a deputada federal Fátima Bezerra que avança
eleitoral e politicamente. E, nesses dois exemplos – Fátima e Mineiro –,
pode-se comprovar como a esquerda no RN está atrelada a projetos individuais:
os movimentos do PT nos últimos anos mostram que o partido funciona em função
da preservação dos mandatos dos dois parlamentares. Há muito não há renovação
no PT.
Já
o PDT e o PCdoB, até pela baixa representatividade eleitoral e política no
estado, têm sobrevivido nos últimos tempos gravitando em torno de alianças táticas
eleitorais.
Há
um ano das eleições de 2012 já estão nas ruas as primeiras movimentações em
torno de candidaturas para prefeito de Natal. Portanto, depois da fragorosa
derrota de 2010 para o DEM, o desafio que se coloca para o PT, PDT, PSB e PCdoB
é como organizar uma frente política capaz de vencer as eleições em Natal e nos
principais municípios do estado em 2012.
O
interessante nessas movimentações é que, apesar da vitória de Rosalba para o
governo do Estado, o DEM, até o momento, não apresenta candidato competitivo em
Natal. Correndo por fora, ainda que dentro da base do governo Rosalba, está o
deputado federal Rogério Marinho (PSDB), que tem uma posição política frágil em
face de ser suplente, portanto dependendo do humor da governadora e do DEM para
exercer o mandato. Até agora nas pesquisas Rogério não ultrapassou os 8% de
intenção de votos.
Os
deputados federais Felipe Maia (DEM) e Fábio Faria (PSD), também da base da
governadora, não tem mostrado apetite para disputar a eleição de Natal.
Já
o PMDB, que recentemente aderiu ao governo Rosalba, tem dito que terá candidato
próprio. E o nome anunciado pelas principais lideranças peemedebistas é o do
deputado estadual Hermano Morais, que também não tem demonstrado apetite para
ser candidato a prefeito de Natal.
Tem
ainda a prefeita de Natal, Micarla de Sousa (PV), que ninguém sabe ainda se será
candidata à reeleição. Todas as pesquisas atuais mostram que ela não tem condições
políticas e nem eleitorais para ser candidata. A rejeição ao seu governo chega
a 85%. Situação muito difícil de reverter.
O
PDT tem um projeto claro e definido: a volta de Carlos Eduardo para a
prefeitura de Natal. Líder em todas as pesquisas – com os índices de intenção
de votos variando de 36% a 50% –, Carlos Eduardo é o contraponto a Micarla de
Sousa. Deixou a prefeitura com 73% de aprovação e apoiou a deputada federal Fátima
Bezerra (PT) na sua sucessão. Agora, Carlos espera que o PT retribua o seu
gesto apoiando-o para prefeito. O PT, por seu lado, insiste em manter a
candidatura a prefeito de Fernando Mineiro, cuja intenção de votos nas
pesquisas está na casa dos 3%. A tática de Mineiro e do seu grupo no PT é lançar
candidatura para se manter em evidência, visando à eleição de deputado em 2014.
Mas há muita gente do PT das outras tendências políticas que prefere ver o
partido apoiando Carlos Eduardo. Nesse caso só o tempo dará a resposta
definitiva. As discussões internas no PT ainda vão longe.
O PCdoB não vai lançar candidatura própria a
prefeito e quer ampliar sua representação na Câmara Municipal de Natal. O
partido tem conversado com Carlos Eduardo e Wilma sobre o quadro político e
eleitoral.
O
PSB traçou um caminho em 2010 para eleger Wilma senadora e não conseguiu. Hoje
o projeto do PSB não é claro e Wilma tem dito que até dezembro decide seu rumo.
Nas pesquisas para a prefeitura, Wilma ocupa o 2º lugar, com as intenções de
votos variando entre 12% e 20%.
Apesar
dos tropeços e da falta de um projeto nítido para o estado, PDT, PSB, PCdoB e
PT, juntos, tem tudo para retomar a prefeitura de Natal e se prepararem para as
eleições de 2014. Porque, hoje, nem candidato a governador em 2014 essa frente
política tem – o quer não deixa de ser curioso, já que a governadora Rosalba
tem enfrentado um grande desgaste, situação que, em geral, propicia o
aparecimento de candidaturas adversárias.
*Palumbo
– edição de setembro/2011
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