Daniella
Jinkings
- Agência Brasil
No
Dia do Idoso, celebrado ontem (1º), a psicóloga Vera Lúcia Coelho, professora
do curso de psicologia clínica da Universidade de Brasília (UnB), faz um
alerta: “O Brasil precisa se preparar para o envelhecimento acelerado da
população nos próximos anos.” Segundo ela, as autoridades públicas devem ficar
atentas a isso: “Temos a ilusão de viver em um país de jovens. A propaganda de
que a beleza jovem é a única possível e saudável está impregnada na gente.”
Neste sábado, o Brasil também comemorou oito anos do Estatuto do Idoso.
Segundo
o Censo 2010, feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), o Brasil tem cerca de 20 milhões de idosos, o que corresponde a aproximadamente
10% da população do país. A maioria (6,5 milhões) tem entre 60 e 64 anos. Belo
Horizonte, Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro são as capitais com maior
número de idosos. Projeções da Organização das Nações Unidas (ONU) indicam que
o Brasil terá, em 2050, 22,5% da população com mais de 65 anos.
O
Estatuto do Idoso prevê várias políticas públicas de valorização dos idosos. No
entanto, a professora da UnB entende que elas não estão sendo cumpridas
integralmente. Além disso, Vera Lúcia defende que toda sociedade esteja atenta
ao envelhecimento populacional. “Ainda não estamos preparados para o
envelhecimento da população.” Para a psicóloga , é preciso que haja uma mudança
de postura no país em relação a esse tema.
O
geriatra Einstein de Camargos, do Hospital Universitário da UnB, concorda com
Vera Lúcia. A estrutura familiar e social, assinala, não contempla a inclusão
dos idosos. “Quem dava apoio [aos idosos] era a família, mas essa estrutura se
perdeu. Hoje, cada um está envolvido com a sua vida. Além disso, as cidades
grandes não estão adaptadas para um idoso.”
Embora
as estatísticas indiquem o crescimento do número de idosos e as famílias
estejam cada vez menos preparadas para conviver com eles, a procura por asilo
no país é pequena, observa Camargos. “Apenas 0,8% dos idosos vive em asilos no
Brasil.” De acordo ele, o governo não dá o apoio a essas instituições nem
fiscaliza suas atividades. “A fiscalização praticamente não existe e a
qualidade é aquém do necessário.”
A
professora aposentada Sonia Ferreira, 70 anos, teve uma amiga que passou mais
de cinco anos em um asilo em Brasília. Segundo ela, a amiga não era maltratada
e acabou ficando doente. “Ela estava debilitada, a família não cuidava dela. O
neto, que era o único parente vivo, a deixou no asilo, onde ficou lá até
morrer”, contou Sonia, que vive com a família.
Um
estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado em maio
deste ano, mostra que o número de instituições públicas que abrigam os idosos
não acompanha o crescimento da terceira idade. O Brasil tem 3.548 asilos, mas
apenas 218 são públicos.
Para
Marcos Terra, diretor do Lar da 3ª Idade Samaritanos, no município goiano de
Águas Lindas, os idosos sofrem abandono em todos as aspectos. Segundo ele, as
instituições que abrigam idosos não recebem nenhum tipo de ajuda governamental.
“Além disso, há dificuldade da nova geração em aceitar e lidar com o idoso.
Faltam políticas de conscientização da sociedade. Os que mais sofrem são as
pessoas carentes.”
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